Dia Mundial do Meio Ambiente, em 5 de junho último, teve relativamente pouca repercussão no Brasil. Está certo que os ambientalistas exageram na argumentação e acabam, por vezes, limitando a capacidade de empolgar. Em um país com seríssimas deficiências de saneamento básico, pode parecer excesso de zelo cuidar da limpeza do ar e da “saúde” mecânica e de segurança dos veículos em circulação. Mas não é. No primeiro caso, o cálculo de mortes decorrentes é feito de forma indireta e de certa forma discutível; no segundo, o descalabro visto todos os dias salta aos olhos: entre100 e 140 mortos, dependendo da contabilidade (morte imediata ou por consequência), e seis vezes mais de feridos.
Desde 1997 a Inspeção Técnica Veicular (ITV, segurança e emissões juntos) está prevista em lei para o Brasil todo e, apesar de algumas tentativas, na prática quase nada se fez. Perdeu-se muito tempo em discussões se deveria ser federal ou estadual. Venceu a opção estadual porque o País tem diferentes realidades. Por falta de regulamentação deu espaço para um arremedo de vistoria (não se pode chamar de inspeção) no Estado de Rio de Janeiro, que na realidade é imposto disfarçado, e a uma controversa inspeção ambiental na cidade de São Paulo que focava mais em carros novos do que antigos – estes poluem 10 vezes mais.
A inspeção de emissões acabou suspensa pela prefeitura paulistana em 2012 e pelo jeito não voltará tão cedo. Ideal mesmo seria racionalizar os custos e criar de vez a ITV com o cronograma correto: começar com veículos a partir do quarto ano de uso, com frequência bienal até o décimo ano e depois, anual. Caminhões, ônibus, outros veículos a diesel e motocicletas deveriam ser inspecionados todos os anos, no mínimo a partir do segundo ano de uso.
O grande problema em São Paulo é político, para variar. Claramente o governo estadual resiste a qualquer tipo de inspeção porque teme perder votos dos eleitores motorizados. A prefeitura por sua vez alega a “mobilidade” da poluição ao defender a inspeção ambiental em toda a região metropolitana e não apenas na capital. O projeto municipal acertou na frequência do serviço, porém tem falhas evidentes e, no fundo, mostra o seu viés populista.
Sem resolver esse impasse nada haverá a comemorar nos próximos dias mundiais do meio ambiente, em particular na cidade brasileira que detém a maior frota real de veículos (seis milhões incluídas as motos). Olímpio Álvares Jr., engenheiro e consultor da L’Avis Eco-Service, defende essa posição e vai adiante em recente artigo de sua autoria.
“Não se respeitam as leis municipal e estadual de controle ambiental em razão de mudanças climáticas, faltam ônibus a diesel com filtros de particulados ou sua substituição prevista em lei (inviável da forma como se legislou), pouco se fala sobre incentivo ao teletrabalho a fim de racionalizar os deslocamentos ou se discutem novas fórmulas de pedágio urbano como alternativa ao rodízio por final de placa”, protesta.
Ele lembra ainda que, dentro de um automóvel, motorista e ocupantes podem estar sujeitos a cargas maiores de poluentes até em relação aos pedestres, em especial nos congestionados corredores de trânsito.
RODA VIVA
ANFAVEA surpreendeu e resolveu assumir números de vendas ao final de 2015 bem piores do que havia previsto antes: agora espera uma queda de quase 21% em relação a 2014. Fenabrave, associação das concessionárias, já sinalizava esse patamar de redução. Produção deve cair 18% e só não está pior porque talvez haja 1% de aumento em unidades exportadas.
MÊS PASSADO foi realmente fraquíssimo para a comercialização do setor. Mesmo com o corte severo de produção e 18% dos empregados sem ter o que fazer, viu os estoques caírem apenas um dia (de 52, em abril para 51, em maio), 46% acima do que seria considerado normal. Duas revisões para baixo em apenas cinco meses não costuma ocorrer na entidade dos fabricantes.
CARROS de menor preço estão sofrendo proporcionalmente mais esse duro revés de mercado: marcha à ré equivale a voltar aos números de 2008 a se confirmarem as previsões. Modelos com motor de 1 litro de cilindrada representam até agora 35,5% do total vendido. Na média anual de 2014, 36,1%.
FIAT 500 ABARTH tem procura restrita porque o apelo pela esportividade está em declínio por aqui. Preço tampouco ajuda. Porém, retirando a raspada em lombadas e valetas, mesmo com o maior cuidado possível, o carro vai além do ótimo desempenho do motor turbo em sua forma pura. Suspensões não são duras demais e até o quadro de instrumentos mudou para muito melhor.
FUNCIONOU BEM a campanha da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artespe) pró-uso dos cintos de segurança. Antes 53% dos passageiros negligenciavam esse item no banco traseiro (foco desta iniciativa) e o índice caiu para 48%, ou seja, bem relevante. Repercutiu de forma indireta até nos motoristas: 14% não atavam os cintos e a pesquisa apontou queda para 13%.