Com o lançamento do Apple CarPlay e o Android Auto, as montadoras tradicionais estão sendo obrigadas a reavaliar não apenas a relação com seus clientes mas, também, a forma como os carros são comprados e vendidos e a própria natureza do carro.
As questões mais importantes estão relacionadas à propriedade dos dados. Quem tem acesso aos dados do motorista, quem é o dono desses dados e quem os usará? Com base nisso, a Capgemini, um dos principais provedores globais de serviços de consultoria, tecnologia e terceirização, apresenta dez previsões sobre a transformação do setor automotivo em 2016.
O carro conectado solucionará o seu primeiro crime
Com muitas câmeras e sensores, o carro conectado torna-se efetivamente um policial móvel, que monitora as ruas em tempo real e envia os dados para a nuvem. A polícia já conta com dados visuais coletados por câmeras fixas. Não é exagero imaginar parcerias entre cidadãos e autoridades policiais para complementar os dados obtidos a partir dessas câmeras fixas com dados da população obtidos a partir dos carros conectados. Esses dados poderiam ser armazenados durante um determinado período de tempo e usados como prova em processos criminais, ou mesmo em tempo real, à medida que os acidentes ocorrem.
Em breve, a primeira disputa envolvendo seguros será solucionada com o uso de dados
A telemática poderá fornecer às seguradoras informações importantes para a solução de sinistros. Os dados ajudarão os peritos a tomar melhores decisões, que hoje são baseadas em declarações de testemunhas.
Primeiro acidente com um carro sem motorista
Os carros sem motorista manterão seus altos índices de segurança, mas um acidente no qual a culpa seja do veículo é inevitável. Em um futuro próximo, o computador de bordo terá de tomar uma decisão entre dois eventos indesejáveis: colidir com outro veículo ou atropelar um pedestre.
Esse acidente levará à discussão sobre quem é o culpado. A culpa é do fabricante do carro, do motorista ou da tecnologia? O motorista deveria intervir no momento e agir, o que o tornaria responsável pelo acidente? A tecnologia por trás do veículo deveria ser culpada pela decisão? Ou a montadora nunca deveria ter deixado o veículo tomar a decisão?
A velocidade média no trânsito de Londres aumentará
Dados em tempo real coletados pelos carros conectados serão reunidos e armazenados na nuvem para determinar qual é a melhor forma de aliviar um congestionamento. Cidades como Londres, a mais congestionada da Europa, poderão controlar o fluxo do tráfego no horário de pico. Com os dados combinados de milhões de veículos que trafegam na rua, os órgãos de trânsito poderão decidir onde colocar semáforos com a luz vermelha e em que duração para diminuir o congestionamento. Com o tempo, a velocidade média do trânsito em Londres aumentará.
Primeira cobrança de prêmio de seguro por quilômetro
A análise de dados em tempo real possibilitará às seguradoras personalizar seus serviços, oferecendo aos motoristas experientes um seguro mais barato se dirigirem em uma área segura. No entanto, se decidirem dirigir em uma área com alto índice de acidentes, poderão pagar um preço maior. A análise de dados em tempo real possibilita um modelo de pagamento altamente customizado, no qual, em teoria, os motoristas pagam mais por dirigir à noite, quando dispositivos vestíveis indicarem que seu julgamento pode ter sido comprometido pelo consumo de álcool.
O setor automotivo se juntará à economia compartilhada
Os dados serão o coração do relacionamento entre o motorista e o carro. Com eles, os clientes poderão entrar em qualquer carro e acessar imediatamente seus detalhes e informações anteriores. O sistema de uso do carro seria regido por um sistema operacional familiar como o Android ou iOS e não pelo veículo. Esse processo confere um aspecto de economia compartilhada ao setor automotivo, permitindo que os usuários utilizem carros emprestados ou os emprestem para reduzir o custo total de propriedade.
Os motoristas trocarão dados por veículos mais baratos
A “etiqueta de preço” de um carro será determinada pela quantidade de dados que o motorista deseja compartilhar. Quanto maior for a quantidade de dados que ele compartilhar com terceiros, mais barato custará o carro. Mas o preço aumentará se o motorista optar por deter a propriedade de alguns ou todos os dados. Com essa abordagem, os consumidores poderão controlar melhor certos dados, como velocidade, localização e desempenho de peças, enquanto as montadoras poderão facilmente gerenciar os dados disponibilizados a elas e usá-los para melhorar a experiência e a fidelidade do cliente.
Opção ‘apagar histórico’ para veículos
A Comissão Europeia estabelecerá uma norma exigindo que os carros sejam vendidos com a opção ‘apagar tudo’ (clear all). Com isso, os motoristas poderão apagar os dados instantaneamente, com o clicar de um botão, como em um browser de navegação na Internet. E, como na abordagem do Google, uma opção que apaga o histórico não removerá todos os dados, apenas evitará que eles sejam acessados por terceiros.
Pit-stops de Fórmula 1 para os consumidores
O modelo tradicional de serviços de pós-venda sofrerá uma mudança, possibilitando a troca de peças em tempo real. Os motoristas serão informados quando um serviço ou peça sobressalente for necessária e alertados no painel sobre as várias opções de peças. Empresas de e-commerce como a Amazon concorrerão com fornecedores tradicionais para enviar peças para o melhor local e pelo melhor preço.. Quando um motorista precisar de uma nova bateria durante uma viagem longa, a peça pode, teoricamente, ser fornecida a um posto de serviços na estrada, juntamente com os serviços mecânicos necessários para instalá-la. A longo prazo, isso eliminará a necessidade de manutenção anual do veículo.