Teatro: “Para Tão Longo Amor”, de Maria Adelaide Amaral, estreia em Sampa

 

Para Tão Longo Amor. Foto - Silvia dos Santos (9)     

Escrita há 23 anos e vencedora de prêmio no 18º Festival de Teatro de Portugal, quando foi encenada no Porto, anos 90, a peça é ambientada no universo da literatura. Atemporal e contemporânea, aborda a apaixonada relação entre editor renomado e poeta outsider, com citações de Camões, Rimbaud e Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa), entre outros.

Adaptado com habilidade por sua autora para os tempos atuais, Para Tão Longo Amor, cujo título foi extraído do soneto Raquel, de Camões, conta a história de Raquel (Regiane Alves) e Fernando (Leopoldo Pacheco). Próxima dos 30, Raquel é uma escritora libertária e vigorosa. Ela deseja gozar de liberdades que acredita poder alcançar apenas com sua poesia. Fernando, editor renomado de 55 anos, criou sua empresa com a ex-esposa e é um homem decidido e maduro.

Ao se apaixonar, o casal dá um mergulho vertiginoso no questionamento de seus papeis neste relacionamento. Fernando deseja que Raquel se ocupe da divulgação de sua obra e na questão publicitária, enquanto a escritora deseja apenas se dedicar à sua arte. A peça mescla passagens do passado e do presente sempre permeada pelo universo da poesia e da literatura.

Para Tão Longo Amor. Foto - Silvia dos Santos (12)

O espetáculo, que objetiva tocar o público pela imensa capacidade de identificação, levanta a reflexão de até que ponto um homem pode amar, suportar, conceder e se humilhar para não perder a mulher amada, mesmo que ela seja seu oposto e se degrade diante dos seus olhos. Essa história de amor abre espaço para risos, lágrimas, reflexão e surpresas.

A atriz e produtora Regiane Alves conheceu o texto de Maria Adelaide Amaral há  três anos e desejou interpretar a protagonista acompanhada pelo ator Leopoldo Pacheco – que também assina figurino e visagismo – e sob direção de Yara de Novaes. Ambos abraçaram a proposta. Yara trouxe seu time de parceiros para colaborar na montagem: Carlos Gradim, diretor com quem trabalhou por mais de 10 anos na Odeon Companhia Teatral, o músico Dr. Morris e o cenógrafo André Cortez.

De referências múltiplas, Para Tão Longo Amor encontrou nas grandes poetas inspiração e impulsos traduzidos para a cena. Algumas delas são Sylvia Plath, Ana Cristina César e Florbela Espanca. A estética do espetáculo também bebe nas águas do filme francês Betty Blue, drama francês de 1986, e do livro Servidão Humana, obra-prima de Somerset Maugham (1915).

Carlos Gradim diz que até mesmo a biografia de Amy Winehouse documentada para o formato audiovisual por Asif Kapadia norteiam o estilo e o gênio de Raquel. “Há vários lugares em que passamos pra compor a peça”, diz Yara, complementando que a terceira sinfonia de Brahms, que inclusive é entoada durante o espetáculo, foi muito inspiradora para a montagem.

“A Maria faz um inventário poético pra gente no próprio texto dela.” Os diretores revelam que um dos maiores desafios do trabalho é encenar uma história que ocorre fora de um tempo tradicional, onde passado e presente se misturam o tempo inteiro no palco. “Não é um tempo dicotômico. Somos sempre resultado de um tempo único e as relações também são pautadas assim: o que eu fui, sou e serei talvez esteja em completa amarração e me constituindo como um ser que é capaz de amar, escravizar, crudelizar e criar”, resume Yara. A diretora completa que essas relações têm total vínculo com nossas heranças, perspectivas e com o que somos.

Para Tão Longo Amor. Foto - Silvia dos Santos (29)

Maria Adelaide Amaral reforça que a peça revela o grande conflito de alguém querer salvar outra pessoa que não quer ser salva. “O Fernando tem o propósito de salvar a Raquel dela mesma não só pelo amor que tem por ela, mas pelo amor que tem pela literatura. Ele não suporta vê-la se perder como poeta e pessoa. É também uma forma de salvar o que ele mais ama na vida, que é a literatura”, diz Maria. Devido à diferença de idades e de personalidade dos personagens, a autora diz que muitas vezes a relação que se estabelece é até mesmo paternal.

Na produção atual, a densidade do texto é permeada por recortes de luz sombrios criados por Aurélio de Simoni. As sombras reforçam as expressões dos atores. “São personagens que falam de pontos escondidos e, dentro de qualquer relação de longo prazo, esses lados vão sendo mostrados”, conta Regiane, sobre a opção de se trabalhar com esse recurso. “Em nome do amor as pessoas falam muitas coisas que podem denegrir, escravizar ou subtrair o outro que se diz que ama. Essa discussão é interessante para pensarmos no lugar que o amor ocupa na vida das pessoas”, complementa Yara.

“É um espetáculo é centrado no ator, então há mesmo uma encenação minimalista e alguns objetos icônicos que dão significado ao que é mais importante nessa relação. O amor é nuclear disso tudo, mas não numa roupagem muito romântica. É um amor que, inclusive, pode cercear o outro”, fala a diretora.

A trilha sonora criada por Dr. Morris, parceiro de trabalho da diretora Yara de Novaes e do cenógrafo André Cortez há mais de 15 anos, pretende reiterar emoções das personagens e trabalhar sons incidentais de forma criativa. Há também a presença de músicas de diferentes estilos, desde a já citada terceira sinfonia de Brahms até o jazz melódico Moonglow.

O cenário de André, prezando pelo minimalismo, surpreendeu Leopoldo Pacheco. “Ele está fazendo um trabalho incrível com um olhar muito contemporâneo pra cena”, diz o ator, figurinista e visagista de Para Tão Longo Amor. Leopoldo, além da atuação, assinou figurino e cenografia de inúmeros espetáculos, tendo inclusive sido reconhecido com o Prêmio Shell na categoria de melhor figurino pelo espetáculo Ópera do Malandro,com texto de Chico Buarque e direção de Gabriel Villela.

A peça conta ainda com preparação corporal de Daniela Carmona, fotografia e programação visual de Pino Gomes, assessoria de produção de Bel Gomes e direção de produção de Lúcia Regina de Souza. A realização é da Dupla Face Promoções e Eventos e Caravana Produções.

Ficha Técnica

Texto: Maria Adelaide Amaral.

Direção: Yara de Novaes e Carlos Gradim.

Elenco: Regiane Alves e Leopoldo Pacheco.

Cenário: André Cortez.

Iluminação: Aurélio de Simoni.

Figurinos e Visagismo: Leopoldo Pacheco.

Trilha Sonora: Dr. Morris.

Fotografia e programação visual: Pino Gomes.

Preparação Corporal para cena: Daniela Carmona.

Assessoria de Produção: Bel Gomes.

Direção de Produção: Lúcia Regina de Souza.

Realização: Dupla Face Promoções e Eventos e Caravana Produções.

Serviço:

Para Tão Longo Amor

Local: Teatro MorumbiShopping. Endereço: Av. Roque Petroni Júnior, 1089 – Jardim das Acacias, São Paulo. Piso G1.

Temporada: Até 31 de julho. Sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 19h.

Ingressos: R$ 70,00 (inteira) e R$ 35 (meia).

Classificação: 14 anos.

Duração: 70 minutos.

Capacidade: 250 lugares.

 

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