Modelos seminovos, como o Boxster, praticamente não desvalorizam: consumidor compra, usa e não perde dinheiro; modelos clássicos, como 911, chegam a valer mais do que os carros 0 km, atingindo cifras milionárias em lojas de usados premium, como na Wish Motors, uma das principais em São Paulo
No setor automotivo, algumas regras são bem conhecidas: carro zero vale mais do que usado e os seminovos continuam perdendo valor de mercado com o tempo. Mas existe uma exceção: a marca Porsche. Os veículos alemães são objetos de desejo em todos os sentidos. Enquanto o mercado de novos tem crescimento acelerado, o setor de seminovos atrai cada vez mais apaixonados pela marca. São consumidores que buscam pronta-entrega e veículos com baixíssima (ou nenhuma) desvalorização, como os modelos Boxster. Alguns seminovos da marca chegam a custar até mais do que o veículo 0 km, como os modelos 911 da década de 1990.
“O Porsche é um caso atípico do mercado de seminovos. Com fila de espera de até oito meses nas concessionárias, como para o modelo Boxster 0 km, o seminovo tem demanda grande e alguns chegam a ser mais caros do que os novos”, explica Pietro Consolini, sócio-diretor da Wish Motors, loja de veículos super premium seminovos, em São Paulo.
Em 2019, a marca Porsche cresceu quase 27% nas vendas no Brasil. Foram 1.849 veículos novos no ano passado diante de 1.457 em 2018, segundo dados da Abeifa (Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores). Com o aquecimento do segmento de novos, o mercado de seminovos super premium também foi impulsionado. Por conta da longa espera nas concessionárias, um modelo Boxster 2019 chega a valer mais do que um 0 Km. Já modelos 2017 e 2018 têm baixíssima desvalorização.
Um Boxster 2017 à venda na Wish por R$ 320 mil custa R$ 360 mil 0 km na concessionária. Outro exemplo é o modelo Cayman, que chega a ter ágio no seminovo. Na Wish, um modelo Cayman, que custou R$ 404 mil na concessionária, está sendo oferecido por R$ 439 mil na loja. “Teve ágio”, diz o sócio-diretor da loja de São Paulo.
O design tradicional da marca, com pouquíssimas variações, é outro ponto fundamental do “fenômeno Porsche”, pois não desatualiza os seminovos. “Se olharmos um 911 antigo e um novo, são muito parecidos. Sabemos o modelo, mas não sabemos o ano”, destaca Pietro Consolini.
Já os carros clássicos, de coleção, são objetos de desejo dos apaixonados da marca e têm valores acima do mercado de novos por conta da exclusividade. Um Porsche 911 ano 1995, por exemplo, é vendido por R$ 600 mil. A versão 0 km, 25 anos mais nova, custa R$ 520 mil na revenda. “Os Porsche da década de 1990 são muito exclusivos no Brasil, existem pouquíssimas unidades no País. Na Wish, vendemos um 911 Turbo 1993 por mais de R$ 2 milhões”, revela Consolini.
O empresário e jornalista Lucas Litvay, 38 anos, optou por um Porsche seminovo por uma série de razões. Apaixonado pela marca desde cedo, comprou um Boxster 2014 no ano passado depois de muita pesquisa. A fila de espera na concessionária foi um dos motivos por escolher o seminovo, que mandou buscar de caminhão-cegonha em Salvador. “Queria um modelo branco, com interior caramelo e pinças de freio vermelhas. Só tinha um carro deste à venda no Brasil, na Bahia”, comenta Litvay.
Além do design clássico, outra vantagem é zelo do antigo proprietário com o carro. “Comprei com apenas 11 mil quilômetros rodados e ganhei até a capa de proteção de presente. Quem compra um carro deste, cuida com carinho”. Sem revelar o preço, conta que pagou 20% a menos do que um 0km, no modelo conversível que usa para passear e viajar. “Gosto de baixar o teto, sentir o vento e o ronco do motor. Se quer curtir este verão com um Porsche conversível tem que partir para o seminovo”, brinca. E apesar de um mercado tão aquecido, Litvay não deixou de pechinchar no preço. “Consegui tirar só R$ 5 mil, que foi o custo do transporte”.