A cidade é a personagem principal do projeto que celebra os 11 anos do Coletivo A Digna. Doze motoristas de aplicativo integram o espetáculo que explicita a precarização das relações de trabalho. Cinco ciclistas do coletivo Señoritas Courier compõem o coro cênico. O espectador será buscado em casa e levado de volta ao seu endereço ao final da apresentação
O espectador é convidado para o lançamento de um novo empreendimento imobiliário no bairro da Barra Funda. No dia agendado, um carro de aplicativo vai buscá-lo em sua casa para levá-lo até o local do evento. É assim que começa o espetáculo Estilhaços de Janela Fervem no Céu da Minha Boca, nova montagem do coletivo teatral A Digna que estreia dia 9 de outubro, sábado, às 18h30. A temporada segue até 28 de novembro com sessões aos sábados, domingos e feriados, sempre às 18h30.
Para concretizar todos os elementos dessa peça itinerante, A Digna convidou a diretora Eliana Monteiro, por sua vasta experiência em espaços alternativos e o trabalho colaborativo com os atores.
Doze motoristas de aplicativo e cinco ciclistas entregadoras, que fazem parte do coletivo Señoritas Courier, se juntam ao elenco formado por seis atores e atrizes. Com total segurança, o espectador é pego e levado em casa e poderá viajar sozinho no carro ou acompanhado de mais alguém que resida com ele. Ao todos são 12 carros, que transportarão no máximo 24 pessoas. A todo momento são respeitados os protocolos de segurança, como o uso de máscara e distanciamento social.
Dias antes da apresentação, o espectador recebe uma série de conteúdos pelo WhatsApp sobre a vida das personagens que moram no bairro planejado Ilhas dos Sonhos Nova Barra Funda. Ao comprar o ingresso, o grupo agenda um motorista de aplicativo que vai busca-lo em horário combinado de acordo com a distância do endereço. Grande parte do espetáculo acontece durante o trajeto de carro. O motorista segue um roteiro, compartilhando com o espectador-passageiro assuntos pertinentes tratados em cena, como a precarização das relações de trabalho, a gentrificação, o uso da fé como mercadoria, a ascensão dos militares ao poder.
Durante o percurso, o público recebe a notícia que um entregador de bicicleta foi atropelado, evidenciando algumas violências que ocorrem na cidade. Há também uma rádio ficcional, que toca o tempo inteiro no carro, trazendo músicas, propagandas e entrevistas com as personagens, criando uma paisagem sonora que serve de atmosfera e contraposição temática para uma série de cenas que ocorrem na rua. As entregadoras-ciclistas circulam pelos arredores e compõem o coro do grupo. Após o trajeto, o púbico chega à cena final na Barra Funda, onde irá acompanhar o desfecho das personagens do espetáculo.
Formado por Ana Vitória Bella, Helena Cardoso e Victor Nóvoa, A Digna encerra com essa montagem a trilogia do despejo composta por Condomínio Nova Era (2014) e Entre Vãos (2016). A proposta do espetáculo, contemplado pela 34a edição do Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo, é questionar como a precarização das relações de trabalho e a gentrificação tentam definir os usos do espaço público.
“A cidade é a principal personagem do nosso espetáculo. Abordamos como as relações de poder que ocorrem no tecido urbano vão afetando a vida íntima dos sujeitos históricos que configuram os convívios na cidade. Ao falarmos dos despejos que acontecem diariamente em São Paulo, não tratamos somente da questão da moradia, mas também de como a racionalidade mercantil vai segregando e excluindo a classe trabalhadora do uso democrático da cidade.”
Acostumada com montagens em espaços não convencionais, Eliana Monteiro conta que o maior desafio é afinar o espetáculo na rua. “A concepção cênica de uma peça em deslocamento pela cidade precisa lidar com todos os tipos de interferências, como pedestres atravessando a rua, carros passando, ônibus, tudo acontecendo ao lado, sem saber que tem uma peça se desenvolvendo. Sincronizar as ações para que os espectadores-passageiros cheguem ao mesmo tempo no local onde acontece a cena final é a maior dificuldade.”
Ficha Técnica:
Idealização, Concepção e Realização: A Digna e Eliana Monteiro. Direção: Eliana Monteiro. Diretor assistente: Eder dos Anjos. Dramaturgia: Victor Nóvoa. Elenco: Ana Vitória Bella, Eliana Bolanho, Helena Cardoso, Ícaro Rodrigues, Paulo Arcuri e Victor Nóvoa. Participações especiais (vídeos e áudios): Catarina Milani, Carlos Zimbher, Caio Franzolin, Karen Menatti, Lucas França, e Ocimar Costa (Mandi). Trilha sonora original e sonorização: Carlos Zimbher. Gravação e Mixagem: Daniel Doctors. Cenários e Figurinos: Eliseu Weide. Iluminação: Aline Santini. Direção de Produção: Catarina Milani. Assistência de Produção: Lucas França, Gabriel Küster e Ton Ribeiro. Produção Financeira: Fernando Gimenes. Diretor de Logística: Ocimar Costa (Mandi). Produção e Direção Audiovisual: Pasárgada Comunicação. Captação dos Áudios da Filmagem: Leandro Wanderley. Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli. Coro de motoristas: André Mendonça, Fábio Hilst, Felipe Silva de Lima, Luala, Malvina Cubas, Marcelo Dalourzi, Márcio Delucca, Mateus Rodrigues, Matheus Da Cruz, Reginaldo Pereira, Renan Vinicius e Sheila Salum. Bikers: Señoritas Courier – Aline Os, Bruna Sampaio, Joaquim Renato, Lola Gi e Marite Solorzano.
Serviço:
Estilhaços de Janela Fervem no Céu da Minha Boca
Temporada: de 9 de outubro a 28 de novembro – Sábados, domingos e feriados às 18h30.
Ingressos: R$20 e R$10 (meia-entrada)
Venda de ingressos – https://adigna.com (a partir de 25 de setembro)
Duração: 110 minutos.
Classificação etária: 12 anos.
Capacidade: 24 espectadores.