“Papa Highirte”, de Oduvaldo Vianna Filho, estreia

Espetáculo é uma fábula de um ditador populista de um país fictício sul-americano que deseja voltar ao poder. O texto foi escrito em 1967/1968, ano do AI-5, e acabou sendo proibido pela censura. Zécarlos Machado interpreta o protagonista e a direção é de Eduardo Tolentino de Araujo

Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974), o Vianinha, foi protagonista da renovação da dramaturgia e do teatro no sentido estético e político por seus trabalhos com o Teatro de Arena de São Paulo, o Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC), e o grupo Opinião, do Rio de Janeiro. O Grupo Tapa faz um resgate histórico do autor por meio da estreia de Papa Highirte no dia 20 de maio, sexta-feira, às 20h, no Galpão do TAPA, localizado na Barra Funda. O espaço tem o selo de Valor Cultural pelo COMPRESP (Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental). O público pode comprar os ingressos pelo Sympla, além de contribuir para a campanha SOS TAPA.

A montagem tem direção de Eduardo Tolentino de Araujo, o elenco conta com Zécarlos Machado que vive o personagem título, além de Adriano Bedin (Morales), Bruno Barchesi (Pablo Mariz / Diego), Caetano O’Maihlan (Hermano Arrabal / Manito), Camila Czerkes (Graziela), Eduardo Semerjian (Perez y Mejia), Fulvio Filho (Estrangeiro), Isabel Setti (Grissa) e Mauricio Bittencourt (Menandro). A temporada vai até 17 de julho com sessões sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 18h.

Na trama, Papa Highirte é o nome do ditador populista deposto da fictícia Alhambra, exilado na também fictícia Montalva. Em sua conspiração para voltar ao poder, mergulha nas reminiscências de um tempo de exceção onde governava com mão de ferro seu país natal, com a imprensa silenciada e torturas nos porões. E chega à triste conclusão que nunca passou do fantoche de militares golpistas a serviço de uma potência estrangeira. Metáfora precisa sobre a América latina, que ganha significativa relevância nos tempos atuais.

“O espetáculo se divide em dois núcleos com o protagonista reconstruindo o passado com sua queda e o futuro com o desejo de voltar ao poder. A peça ainda tem um personagem do passado que vem para um acerto de contas. É o confronto de duas faces da mesma moeda”, ressalta Tolentino.

O figurino e os elementos cenográficos permeiam pela estética das cores cinza e preto. Tem inspirações dos anos 60 com o lado altamente politizado. Os atores ficam sempre no palco em uma encenação em formato de arena, onde a dramaturgia se adequa ao contorno do espaço.

“É uma fábula de um ditador populista de um país fictício sul-americano que dialoga muito bem com personagens reais como Getúlio Vargas no Brasil e Juan Domingo Perón na Argentina”, compara o diretor.

Escrita em 1967/1968, ano do AI-5, a peça foi proibida pela censura e somente ganhou uma montagem profissional em 1980 devido à anistia com o Teatro dos 4 e direção de Nelson Xavier. Tin Urbinatti chegou a dirigir uma montagem pioneira de Papa Highirte feita pelo Grupo de Teatro de Ciências Sociais da USP, em 1975. No final dos anos 80 teve uma produção com direção de Reinaldo Maia.

O título da montagem tem alusão ao ditador haitiano que governou de 1957 a 1971, François Duvalier, conhecido como Papa Doc. O texto trabalha em diversas camadas temas como o declínio do populismo caudilhista, a organização das militâncias de luta armada e a influência da política externa estadunidense no continente americano.

A trajetória do Grupo Tapa mostra a presença de Vianna Filho em seu repertório com a montagem de Corpo a Corpo (1995), com o próprio Zécarlos Machado no elenco e vencedor do Prêmio APCA, e Moço em Estado de Sítio (1998). As peças fizeram parte da mostra “Panorama do Teatro Brasileiro”, onde foram realizadas 18 peças nacionais no Teatro Aliança Francesa, onde o grupo fazia residência artística. Em 2009, os atores Isabella Lemos e Marcelo Pacífico, alunos do Tapa na época, protagonizaram Mão na Luva.

Eduardo Tolentino de Araujo enfatizou a importância de encenar Papa Highirte neste momento. “Com o fim da ditadura e a chegada da anistia, parece que a história não se repete. Na verdade, a história possui um movimento cíclico e o texto de Vianinha é uma prova disto, pois os líderes populistas estão na moda novamente, não só no Brasil, mas no mundo”.

Sinopse: Papa Highirte é o nome do ditador populista deposto da fictícia Alhambra, exilado na também fictícia Montalva. Em sua conspiração para voltar ao poder, mergulha nas reminiscências de um tempo de exceção onde governava com mão de ferro seu país natal, com a Imprensa silenciada e torturas nos porões. E chega à triste conclusão que nunca passou do fantoche de militares golpistas a serviço de uma potência estrangeira. Metáfora precisa sobre a América latina, que ganha significativa relevância nos tempos atuais.

Ficha técnica:

Autor: Oduvaldo Vianna Filho. Direção: Eduardo Tolentino de Araujo. Elenco: Adriano Bedin (Morales), Bruno Barchesi (Pablo Mariz / Diego), Caetano O’Maihlan (Hermano Arrabal / Manito), Camila Czerkes (Graziela), Eduardo Semerjian (Perez y Mejia), Fulvio Filho (Estrangeiro), Isabel Setti (Grissa), Mauricio Bittencourt (Menandro) e Zécarlos Machado (Papa Highirte)Desenho de Luz: Wagner Pinto. Assistente de Iluminação:Gabriel Greghi. Coreografias: Cassio Cöllares. Design Gráfico da Divulgação: Mau Machado. Fotógrafo: Ronaldo Gutierrez.   Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli e Renato Fernandes. Assistente de Produção: Nando Barbosa. Produção Executiva: Nando Medeiros. Direção de Produção: Ariel Cannal.

Serviço:

Temporada: De 20 de maio a 17 de julho (Sexta e sábado, às 20h, domingo, às 18h)

Local: Galpão do TAPA, Rua Lopes Chaves, 86 – Barra Funda.

Preço: R$ 40 (Inteira) e R$ 20 (Meia).

Espectador poderá fazer doação para o SOS TAPA comprando ingressos com valor maior.

Compra Online: Pelo Sympla

Classificação: 14 Anos. Duração: 110 Minutos

Capacidade: 50 Lugares (plateia livre)

 

grupotapa.com.br

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