Já faz algum tempo.
Descia para Santos, pela Rodovia dos Imigrantes, em um dia cinza, mas sem chuva. Passado o pedágio (que já era caro naquele tempo. E continua caro até hoje.), começou aquela garoa fininha que transforma as pistas em um verdadeiro sabão. Preocupado com a segurança, diminuí a velocidade do Vectra (lembro bem dele, prata, recém lançado, uma delícia de carro) e, ao invés dos 120 km/h permitidos, baixei para uns 90.
Mas eis que surge, me ultrapassando pela direita, um “bólido”, e ao volante, um verdadeiro “piloto”, com mulher e dois filhos . De repente, aquela “farofinha” formada pela água fina e a poeira da estrada, fizeram seu trabalho e o “piloto” perdeu o controle do carro.
Diminuí ainda mais a velocidade e fiquei assistindo e torcendo para tudo terminar bem. Vira pra lá, vira pra cá, faz piruetas, acho que umas duas, ou três, e foi diminuindo a velocidade, não pelo pé direito que, eu vi, pelas luzes acesas, estava enterrado no pedal do freio, mas, certamente, porque tirou o pé do acelerador.
E assim foi, por vários metros, sem o menor controle. Mas, penso que graças à minha torcida e pedidos aos Céus (e, tenho certeza que não só eu, mas todos os motoristas que seguiam pela Rodovia dos Imigrantes, naquele momento, que tiraram o pé e deviam estar rezando como eu).
E o Chevette foi diminuindo, diminuindo, diminuindo, até que parou no acostamento, virado para o sentido contrário da rodovia. Todo mundo passou, eu não. Parei no acostamento logo adiante para ver como estavam as pessoas depois daquela “viagem”. Fui em direção ao carro, onde as duas crianças gritavam desesperadas enquanto sua mãe chorava sem dizer uma palavra. E o “piloto”, muito assustado, tentava acalmar todo mundo.
Perguntei se estavam bem, apesar do susto e ele respondeu, com uma voz trêmula, que sim e que iriam reiniciar a viagem. Foi quando eu olhei os pneus do Chevette. Eram pneus que imitavam aqueles usados pelos carros da F1 na pista seca, mas não devem ser usados em pista molhada. Mas lá estava aquele carro de rua, com dois pneus slicks. Ou popularmente chamados “carecas”.
Eu pedi desculpas a ele e disse, com muita “autoridade”: o senhor vai chamar o pessoal da Ecovias para guinchar o seu carro, porque outra dessa talvez o senhor e sua família talvez não escapem, como aconteceu agora. Veja as condições dos seus pneus.
Ele choramingou, me deu razão e disse que os pneus estavam muito caros e que tinha dado para comprar só dois, mas que na próxima semana iria comprar os que faltavam. Me agradeceu e entrou no carro, com a chuva apertando.
Por sorte, passou uma viatura da Ecovias (da concessionária da via), que chamou o guincho. E o “´piloto” voltou para São Paulo, adiando a praia da família para a semana em que estivesse bem “calçado”.
Eu fiquei tremendo por muito tempo e a cena não me sai do pensamento até hoje, acontecida em 1993.