OS “GRINGOS BRASILEIROS”

Um deles aprendeu a tocar tamborim; outro, além de trazer a Octoberfest para o Brasil, outro volta sempre para ir à praia e pescar; tem aquele que preferiu ter dois dos seus filhos nascidos no Brasil; mais um que é elogiado por todos os jornalistas do setor; e tem aquele que, nas vitórias do seu time no domingo, ia, na segunda-feira, para a fábrica com a camisa do seu Corinthians.

São muitos os casos de executivos de montadoras (e outras empresas, claro!) que pelo seu comportamento e atitudes, podem ser chamados de “brasileiros”, por nós, nativos.

Vou começar por aquele (que já nos deixou) com quem tive estreito contato e que me chamava de amigo, Mark Hogan (presidente da GM e responsável pelos principais lançamentos da empresa na década de 90) era apaixonado pelo Brasil e o samba. Sua paixão era tal, que ele foi aprender a tocar tamborim, para sair no carnaval carioca pela Portela, no Rio de Janeiro. Gravou o enredo da escola em um cassete (quem ainda lembra desse objeto?) e, todo dia quando o Severino (o motorista) o pegava em casa, em São Paulo, ele fazia a viagem de cerca de 50 minutos até a fábrica, em São Caetano do Sul, ensaiando. E, na volta, a mesma coisa.

Esse alemão, que não mora mais no Brasil, mas volta aqui todo ano para ir às nossas praias, pescar, rever amigos (que se referem a ele como “o alemão mais brasileiro que conheço”) e visitar a São Paulo Octoberfest, idealizada por ele (junto com Walter Carvalho). Phillip Schiemer. Ele esteve por duas vezes atuando na Mercedes-Benz do Brasil. Sua primeira vez foi como responsável pela Sprinter e, na segunda, como presidente da empresa.

Phillip Schiemer – Divulgação

Este outro, também alemão, Wolfgang Sauer (que também não está mais entre nós), enfrentou o início do movimento sindical no Brasil, como presidente da Volkswagen. Como bom brasileiro, gostava muito de tomar cachaça, sempre sem exageros. Exagero só mesmo com seus charutos.

Bem-humorado, enfrentava as dificuldades enfrentadas pelo País afirmando que “Deus é mesmo brasileiro”. Vez por outra tinha que falar à Imprensa que a GM não conseguiria tirar a VW da liderança, como anunciava o presidente da montadora norte americana. Até hoje, Sauer é lembrado, entre os jornalistas da chamada “velha guarda” como um dos mais respeitados e queridos “gringos brasileiros” do setor.

E o presidente da fabricante americana que Sauer retrucava pelo menos duas vezes ao ano era Joseph Sanchez, da GM. Esse, além de “brasileiro” era também torcedor do Corinthians e que frequentava os jogos do “Timão”, nos domingos, em São Paulo.  Quando o seu time ganhava, na segunda-feira ele chegava à fábrica com a camisa do Corinthians e circulava pela linha de produção, aplaudido pela “galera” corintiana.

Voltando para os EUA, dirigindo a Oldsmobile (quem lembra?) Sanchez foi morar em Lansing (capital de Michigan), em uma casa decorada com azulejos e ladrilhos levados do Brasil. Visitei-o lá, mas não vi nenhum dos azulejos com o escudo do Corinthians.

Outro norte-americana, Robert Gerrity, era presidente da Ford no Brasil, quando do lançamento do Escort. Eu era repórter do setor (isso existia nos anos 80, repórter de setor) e tinha um ótimo relacionamento com aquele grandalhão simpático que sempre recebia com atenção a Imprensa.

Certo dia, durante entrevista, ele me perguntou seu seria capaz de guardar um segredo. Claro que respondi sim e ele me levou a um galpão na fábrica e me mostrou pela primeira vez à Imprensa, o Escort. Abriu o carro e pediu que eu entrasse. Ao entrar no banco traseiro, disse que era um pouco apertado. Mantive minha palavra.

– “Para mim também”, disse ele, mais alto que eu.

A maior do Bob foi quando ele, em uma coletiva, disse que um fabricante, cujo nome tinha quatro letras e começava com ”F”, ia deixar o Brasil. Premonição?

Pobre do Alberto Fava, responsável pela operação Fiat no Brasil que teve que responder um milhão de vezes que a empresa não sairia do Brasil. Hoje o gentil a tencioso Fava deve estar rindo da fala do Bob.

Outra dessas figuras é Gianni Coda, que foi presidente da Fiat no Brasil e torcedor do Atlético Mineiro. Ele travava grandes batalhas com diretores da empresa, especialmente Marco Antônio Lage (Comunicação), cruzeirense, antes do início de cada reunião que acontecia às segundas-feiras, quando no domingo houve o clássico no Mineirão.

Gianni Coda – Divulgação

É claro que existiram muitos outros “gringos brasileiros”, em qualquer tipo de empresa ou fabricante de veículos, como os citados, com quem tive a oportunidade de conviver em meus quase 60 anos de jornalismo. Iniciados em 1969, em A Tribuna, em Santos e passando pela Ford, GoodYear, O Globo e Diário do Comércio.

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