A peça estreia no Teatro de Contêiner, apresentando a cultura latino-americana e seu passado de autoritarismo, convidando o público a perceber o encantamento e a cultura de frestas como potentes ferramentas políticas
Com direção e dramaturgia de Caio Silviano, ¡Cerrado!, espetáculo musicado do Grupo Pano, estreia dia 6 de setembro, sexta-feira, às 20h, no Teatro de Contêiner. A temporada segue até 30 de setembro com sessões sexta, sábado e segunda, às 20h e domingo, às 19h.
A inspiração ara a criação do espetáculo vem de uma legislação em San Pedro de Atacama, no Chile, que restringe o direito de dançar em estabelecimentos licenciados devido à burocracia excessiva e aos altos custos envolvidos na obtenção das permissões necessárias.
A história se inicia com uma Mulher que, ao finalmente encontrar o Criador dos limites da América Latina, arrasta uma das linhas de seus mapas abrindo uma fresta. Este ato evoca uma entidade capaz de trafegar por tempos antigos, entrelaçar narrativas e revisitar a história da proibição da dança no deserto.
“Partimos da regulamentação da dança no deserto do Atacama, no Chile, e sua consequente proibição. Entretanto, no processo de pesquisa e desenvolvimento do espetáculo sentimos a necessidade de levantar um argumento mais abrangente, afinal, talvez a questão a ser explorada não fosse a proibição em si, mas sim um mundo que foi construído para que sua ausência não fosse motivo de revolta”, conta Caio Silviano.
Guiado pelo “portunhol”, o enredo apresenta um dialeto misto de português e espanhol, repleto de neologismos, clichês e paródias. A mistura das línguas busca evidenciar a dificuldade da integração brasileira na América Latina devido a um projeto cultural colonial, mostrando que a união do continente ainda é uma ficção a ser construída.
Com direção musical de Marco França (vencedor do prêmio Shell pelo trabalho musical em 2016 e 2019), a trilha sonora é uma fusão de diferentes influências latino-americanas, como os arranjos vocais das Murgas uruguaias, as melodias das milongas argentinas, os tambores cubanos e as músicas tradicionais dos povos andinos, complementados pela musicalidade brasileira.
“A América Latina é um prato cheio e de variados ‘sabores’ quando falamos em ritmos, instrumentos, gêneros musicais e tradição. O grupo Pano é muito antenado com o contemporâneo sem esquecer do que é considerado raiz de cada lugar. E isso está representado tanto nas intervenções sonoras da boate fictícia, quanto pelos atores com os mais variados instrumentos que foram se agregando em cada experimentação ao longo do processo de criação sonora/musical. A sonoridade do espetáculo certamente é a fusão fiel do que é a latinoamérica: diversa”, pontua França.
A montagem utiliza uma ampla variedade de elementos cenográficos que transformam o público em parte integrante da narrativa, proporcionando uma imersão completa nas localidades descritas. Através de truques de mágica, máscaras expressivas e música ao vivo tocada pelos próprios atores, são criados rituais de celebração e desmantelamento da morte em vida.
Mesclando o repertório do realismo fantástico com a dinâmica peculiar do teatro do absurdo, o texto propõe uma ideia de um lugar latino indefinido e marcado por suas contradições. “O objetivo é ao final engajar os espectadores de forma ativa nesse baile que se opõe ao ciclo de morte e desencanto”, explica Silviano.
A construção do figurino, concebido por Cecília Barros, se baseia nas diversas estéticas latino-americanas, com foco em cores, texturas e a pluralidade dos elementos naturais. A pesquisa busca criar algo além das vestes cotidianas, inspirando-se nas Murgas uruguaias e argentinas, no carnaval, nos bailes cubanos, nas danças andinas e outras manifestações culturais do continente.
Projetada por Lui Seixas, a iluminação cria atmosferas de boate, deserto e encantamentos. Utilizada pelo grupo como ferramenta narrativa, a luz diferencia os níveis de ficcionalidade entre ator, persona e personagem.
“¡Cerrado! é um grito pra fora, para ouvirmos dentro. Um enredo que salta até o Chile para olharmos o Brasil de hoje, que completa 60 anos do golpe civil militar, e tentar entender como e por que o processo de autoritarismo e o pensamento extremista na América Latina volta à tona. E como podemos usar a memória como dispositivo utópico-político dentro da cultura de frestas – política estudada por Luiz Antônio Simas e Luiz Rufino, tema componente da nossa atual pesquisa,”conclui Silviano.
Ficha Técnica:
Elenco: Amanda Quintero, Cecília Barros, Ian Noppeney, Rafael Érnica, Alice Guêga, Bernardo Bibancos, Henrique Reis, Juliano Veríssimo, Barroso e Gabriela Sugui.
Diretor e Dramaturgo: Caio Silviano.
Direção Musical: Marco França.
Direção de Arte: Cecília Barros.
Iluminador: Lui Seixas.
Máscaras: Rafael Érnica e Caio Silviano. Composições: Caio Silviano, Barroso Eus e Bernardo Bibancos.
Cenotécnico: Pity Santana.
Aderecista: Zé Valdir Albuquerque e Amanda Quintero.
Orientação de manipulação de bonecos: Marcela Arce.
Aprendiz: Marcela Lívier.
Apoio de Palco: Isabela Lourenço| Lou e Marcela Lívier.
Direção de Produção e produção executiva: Isadora Petrin (PiTô Produções).
Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli e Renato Fernandes.
Equipe de vídeo: Pedro Morales, Luiz Felipe Aranha, Rodrigo Nelli
Foto: Leekyung Kim
Apoio: Turma do Bem.
Realização: Grupo Pano, Cooperativa Paulista de Teatro, 18ª edição Prêmio Zé Renato e Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo.
Serviço:
¡Cerrado!
Estreia dia 6 de setembro, sexta-feira, às 20h no Teatro de Contêiner
Temporada: De 6 a 30 de Setembro. Prorrogação de 04 a 14 de outubro de 2024 – Sexta, sábado e segunda, às 20h e domingo, às 19h.
Duração: 135 minutos
Classificação: 16 anos.
Ingresso: R$30 (inteira) e R$15 (meia-entrada).
Bilheteria: Aberta 1 hora antes do espetáculo.
Local: Teatro de Contêiner – R. dos Gusmões, 43 – Santa Ifigênia
Capacidade: 99 lugares.