A montadora alemã precisa enfrentar uma revolução tecnológica liderada por veículos elétricos e definidos por software, enquanto lida com concorrência chinesa, desafios internos e a urgência de modernização
A Volkswagen, segunda maior fabricante de automóveis do mundo, enfrenta um dos períodos mais críticos de sua história: a transição para veículos elétricos e definidos por software, a pressão de concorrentes chineses e uma crise interna que coloca sua sobrevivência em jogo.
Os automóveis, cada vez mais parecidos com “computadores sobre rodas”, forçam montadoras tradicionais como a Volkswagen a se reinventarem para não caírem no ostracismo tecnológico. A revolução na indústria automotiva, marcada por carros elétricos e veículos definidos por software (SDV, na sigla em inglês), coloca empresas como a alemã diante de uma escolha difícil: modernizar ou enfrentar o declínio.
Especialistas comparam o momento atual da Volkswagen a crises enfrentadas por gigantes de outros setores, como Kodak e Nokia, que perderam o domínio do mercado ao não acompanharem as inovações tecnológicas. Para a Volkswagen, a principal ameaça vem dos fabricantes chineses de baterias, que dominam o mercado global com produtos de alta eficiência e custos reduzidos.
Mesmo com avanços como o ID.7, modelo elétrico que atinge 700 km de autonomia, a montadora alemã encontra dificuldades para competir em preços. Na Europa, o modelo básico custa 55 mil euros (aproximadamente 350 mil reais), enquanto veículos elétricos chineses entram no mercado com valores significativamente mais baixos. Esse desequilíbrio é agravado por novos impostos europeus sobre importações e pela estratégia de fabricantes chineses em estabelecer fábricas no continente.
No cenário tecnológico, o conceito de veículos definidos por software (SDV) representa uma mudança paradigmática. Assim como os smartphones revolucionaram a telefonia móvel, a integração de softwares como o “cérebro” do carro transforma funções antes mecânicas em operadas por inteligência digital. No entanto, a Volkswagen enfrenta dificuldades em sua divisão de software, que já consumiu bilhões de euros sem resultados satisfatórios.
Para superar os desafios tecnológicos, a montadora busca parcerias estratégicas. A Rivian, nos EUA, e a Xpeng, na China, são exemplos de aliadas no desenvolvimento de plataformas eletrônicas que controlam os sistemas dos veículos. Ainda assim, mais da metade das montadoras globais já adquiriram plataformas de fabricantes chineses, aumentando a dependência tecnológica e a competição direta.
Além disso, a Volkswagen enfrenta problemas internos graves. A meta de economizar cinco bilhões de euros envolve o possível fechamento de fábricas e a demissão de milhares de trabalhadores, o que tem gerado protestos e reivindicações por melhores salários e condições de emprego. Paralelamente, há críticas à distribuição de dividendos generosos aos acionistas em um momento de crise.
Mesmo diante desses obstáculos, a Volkswagen segue como a segunda maior fabricante de veículos do mundo, com mais de 680 mil funcionários e vendas de nove milhões de carros no ano passado.
Contudo, especialistas apontam que a empresa precisa de um “choque de realidade” para se adaptar rapidamente à nova dinâmica do setor automotivo, dominada por players como Tesla e BYD, que nasceram digitais e já lideram o mercado.
A transição de uma montadora tradicional para uma empresa de tecnologia não é fácil, mas será essencial para que a Volkswagen continue relevante.
Assim como a fotografia e a telefonia passaram por suas revoluções digitais, a indústria automotiva enfrenta agora uma transformação que exigirá inovação, eficiência e coragem para abandonar antigos paradigmas.