BANCO DE ALIMENTOS

Um dia, a presidente da Editora FC (publicava revistas AutoEsporte, Forma Física e Casa & Jardim, está com vários filhotes, entre eles Quarto de Criança e Construção & Reforma), decidiu vender a editora (o título da primeira foi vendida para  Editora Globo) e partir para aquilo que ela classifica como um ato de civilidade.

Luciana Quintão não teve muito apoio do começo do seu Banco de Alimentos. As pessoas diziam que ela iria se arrepender. Não desistiu, pegou a Kombi e foi atrás de seu sonho: recolher o alimento  que sobrava nas  empresas preparadas)  e supermercados (in natura) e levar até a mesa de entidades que atendiam à pessoas necessitadas.

Essa história começou há 26 anos  e, até hoje, o Banco de Alimentos  já distribuiu  mais de 2 milhões de  toneladas de alimentos para 62 entidades espalhadas pela Grande São Paulo, não mais usando a velha Kombi, mas dois caminhões baús VUC. Aqui um capítulo à parte: os dois caminhões são novos, porque os anteriores foram roubados no final do ano passado. Os veículos percorrem 3.000 km por mês (cerca de 600 mil km, desde o início dos registros em 2008), diariamente das 8 às 17 horas, fazendo entrega de alimentos, nas entidades  necessitadas em todas as regiões da cidade de São Paulo.

Carlos Alberto Pardian é o mais antigo motorista do Banco de Alimentos, com 21 anos “de casa”. Ele foi uma das vítimas de um dos assaltos. Ficou confinado por cerca de três horas, junto com o ajudante e foram “largados bem longe”. Os dois caminhões nunca foram recuperados.

Ele conta que o ambiente de trabalho é muito bom, tanto nos locais de coleta, quanto e, principalmente, naqueles os alimentos são deixados. Os veículos são refrigerados, o que mantém a a qualidade dos alimentos, mesmo dos congelados. No trânsito, como conta ele, ao identificarem os caminhões (difícil não acontecer, basta ver pelas fotos), outros motoristas e até pedestres acenam, fazem sinal de positivo, como forma de reconhecer o trabalho do Banco de Alimentos.

– É muito gratificante, diz ele, contando que até sua foto faz parte da decoração externa do VUC.

Civilidade

Conheço Luciana Quintão desde o tempo em que ela dirigia a FC Editora, onde Fernando Calmon (no setor automobilístico, como eu, há mais de 50 anos) editou durante vários anos a revista AutoEsporte, por onde passaram, entre muitos outros, Caio Moraes e Marcos Zamponi, o inesquecível “Zampa” de histórias e estórias mil no setor.

A empresária ressalta que para ela, o trabalho que realiza na ONG representa civilidade. Fala do início difícil com sua Kombi, substituída por dois caminhões que, com a Lei que proíbe a entrada de caminhões na cidade, foram substituídos por vans e, finalmente os VUCs que operam hoje.

Luciana também lembra que, mesmo com milhares de toneladas de alimentos distribuídas até hoje (70 delas foram para o Rio Grande Sul recentemente), o Banco de Alimentos enfrenta dificuldades e precisa sempre da cooperação da comunidade.

E não apenas para cooperar com a doação de alimentos, mas também com a cessão, por doação ou comodato, de veículos pequenos que possam entrar em vias onde os VUCs  não entram.

Para quem quiser ajudar ou receber doações, o caminho, segundo Luciana, é entrar no site da ONG que é bancodealimentos.org.br  

Nele será possível conhecer toda a história e as áreas de atuação do banco de Alimentos e ajudar da melhor forma que colaborar ou indicar entidades que necessitem de ajuda. É preciso salientar, acrescenta Luciana, que cada brasileiro desperdiça 60 kg de alimentos a cada ano, segundo dados do relatório da FAO e PWNSSAN, de 2021. Este documento também revela que 125,2 milhões de brasileiros estão em situação de insegurança alimentar, enquanto 12,5 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçados anualmente no País.

O logotipo do banco é uma melancia cortada. A explicação da Luciana para essa escolha: “é que ela simboliza o  sorriso”.

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