Cia Os Malditos leva espetáculo gratuito para ZL

Mário de Andrade inspira espetáculo cheio de música ao vivo e encenado em áreas públicas de São Paulo

Mário de Andrade (1893-1945) foi um desbravador pelo país e trouxe uma obra cercada de elementos míticos fundacionais para a constituição de um “novo Brasil”. Com um espetáculo cheio de canções e instrumentos tocados ao vivo, a Cia Os Malditos estreia o espetáculo Música de Feitiçaria com uma série de apresentações gratuitas em locais ao ar livre na capital paulista. A direção é de Rafael Antonio Ghirardello e o elenco conta com Bruno Bertolli, Carlitos Tostes, Lis Santos e Léo Magrão.

No dia 28 de agosto, a apresentação é na Praça Dilva Gomes Martins (Praça do Morcegão), às 11h (Distrito de Artur Alvim, Zona Leste) .  E no mesmo dia, também na Praça Ocapégua, às 15h, no Vila Esperança (Distrito da Penha, Zona Leste).

A trama coloca Mário de Andrade como protagonista de uma história envolvente, encenada em um Brasil profundo, quando as barreiras da ciência e do ritual se esfumaçam e o pesquisador tem seu corpo fechado por mestres de catimbó. A peça é uma adaptação para o teatro de suas pesquisas e andanças pelo Brasil, quando reuniu e “partiturou” músicas de terreiros de catimbó, presentes no livro “Música de Feitiçaria no Brasil”. Manuscritos, livros e a musicografia do projeto “Missão de pesquisas folclóricas”, com seus registros audiovisuais, funcionaram como propulsores e inspirações.

A identidade visual do espetáculo passeia por elementos presentes em religiões afro-indígenas-brasileiras, em especial no catimbó (culto à jurema), que o autor experienciou. Em cena, estão maracás, cachimbos de angico, colares de conta e materialidades provenientes da natureza, objetos de madeira, palha e barro. Os figurinos transitam entre esses Mários de Andrade viajantes, roupas que denotam um clima tropical com toques de regionalidade.

“Estar em praça pública é um posicionamento político: levar o acesso ao teatro, à cultura, gratuitamente às camadas, que não tiveram/têm o privilégio de ter contato com aparelhos ou bens culturais. Por outro lado, temos a consciência de que será um jogo, uma performance, um happening, uma obra aberta, tendo a possibilidade de receber interferências, tanto da natureza biológica (Ventos, chuvas ou mesmo da natureza humana: comentários em voz alta). É preciso que o teatro seja acessível como linguagem e que ajude na formação de público e do público. Trazendo novas referências estéticas para todes. Ofertando essa nova liturgia e linguagem e aprendendo com a plateia”, ressalta o diretor.

A música é um rio que conduz esses corpos e ouvidos dos espectadores no espetáculo. Além dos maracás, outros instrumentos comporão as sonoridades do espetáculo: djembê, tambor oceânico, pau-de-chuva, queixada, agogô e apitos de pássaros. Também está sendo construída uma arquitetura sonora que será executada digitalmente, criando efeitos e potencializando ainda mais as cenas.

Rafael Antonio Ghirardello enfatizou as características da peça que vão causar uma identificação nas pessoas. “Esperamos nos aproximar de um público das camadas populares. E esse espetáculo traz interações diretas com o público: serviremos frutas, lavaremos seus pés. Será uma relação afetiva e cultural. Estamos falando de um Brasil profundo, arraigado em crenças diversas e que pelos próprios processos sociais, históricos e culturais, essas diversidades se misturam, se sincretizam. Quem nunca foi numa benzedeira? Tomou um chá indicado pela avó para curar algum mal-estar? Estamos falando da sabedoria da natureza, da expressão regional, daquilo que não se encontra escrito com receita, ao contrário, é preservado através da oralidade”.

Cia Os Malditos sempre foi estudar as vozes silenciadas: o autor francês Antonin Artaud, a dramaturga inglesa Sarah Kane, Plínio Marcos e agora se depara com a obra de Mário de Andrade. “Sua obra traz aspectos que devem ser destacados e que expressam anseios e características de muitos brasileiros: a valorização da cultura popular, da música, de instrumentos musicais indígenas, da dança e dos movimentos corporais presentes nas manifestações culturais populares, dos rituais das crenças populares, da religiosidade vivida pelo povo do Norte e Nordeste – regiões onde ele pesquisou. Mário já ocupa um lugar de clássico, é preciso agora descentralizá-lo! Um Mário para todes! Um Mário que se conecte também com o povo, com as periferias e não só com a academia e a intelectualidade”, finaliza Ghirardello.

“O espetáculo é resultado do projeto da companhia, que foi contemplado pelo Edital de Apoio a Projetos Artísticos Culturais Descentralizados de Múltiplas Linguagens da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.”

Ficha técnica 

Direção do espetáculo e Direção de Arte: Rafael Antonio Ghirardello. Adaptação de texto: Fredy Állan Galembeck. Atuação: Bruno Bertolli, Carlitos Tostes, Lis Santos, Léo Magrão e Ricardo Jeacomo. Instrmentista e sonoridades da cena: Léo Magrão. Direção Musical e arquitetura sonora: Ricardo Jeacomo. Direção de Cena: Lou Makiama. Figurinos: Bruno Bertolli. Maquiagem: Lis Santos. Direção de Produção: Carlitos Tostes. Designer gráfico: Giuliano A Ziviani. Aderecista: Lala Martinez Corrêa. Locução em off e gravação para divulgação: Emanuela Alves. Supervisão da escrita: Dra. Regina Santos. Marketing Digital: Panther Marketing – Daniele Maelaro. Assessoria de imprensa: Renato Fernandes Gonçalves. Agradecimento: Cia Livre

Serviço

Agosto

Domingo, 28 de agosto

11h – Praça Dilva Gomes Martins (Praça do Morcegão)

Local: Rua Padre Manuel Barreto. COHAB Padre Manoel da Nóbrega (Distrito de Artur Alvim, Zona Leste) Próxima ao metrô Artur Alvim (Linha Vermelha)

Domingo, 28 de agosto

15h – Praça Ocapégua

Local: Av. Calim Eid – Vila Esperança (Distrito da Penha, Zona Leste) Próxima ao metrô Guilhermina-Esperança (Linha Vermelha)

Classificação: Livre

Duração: 35 minutos

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