DE QUEM FOI A CULPA?

Eu participei de vários testes na indústria. Nos meus mais de 50 anos no setor (comecei em 1969) automobilístico. Entre aqueles que pude ser um coadjuvante, foi para verificar se a vedação desenvolvida para um determinado modelo, seria capaz de impedir a entrada de poeira no mesmo. Era feito com o que havia de melhor na época: uma picape seguia à frente, na estrada de terra, levantando toda o maior “poeirão” do mundo.

Como? Bem, a picape arrastava uma espécie de trave “forrada” por folhagens e galhos de árvores, que causava o efeito (poeirento) necessário para o teste de isolamento do veículo. A pista, de terra, tinha cerca de quatro quilômetros de extensão, com pedregulhos, irregular. Perfeita para avaliações dos veículos em estrada de terra e a pesquisa em questão, pois a região é de pouca chuva e poeira lá é o que não falta.

Daí, o carro seguia a picape ou melhor, a poeira. Curvas para a direita, para esquerda, em frente, subidas e descidas. Tudo que a poeira fazia, o engenheiro do carro fazia, rigorosamente, igual.

Ao final, todo ele era analisado, interior, porta-malas, capô. Tudo mesmo, tal qual faz o pessoal do CSI na “cena do crime”, só faltando mesmo o luminol, mas não era o caso, pois não era o caso de se descobrir sangue, e sim o pó que conseguisse furar o bloqueio projetado pela Engenharia da fábrica visando garantir o conforto e bem estar dos ocupantes do veículo.

Bem, seguindo as regras do campo de provas, o condutor do carro “perseguia” a poeira, sem enxergar absolutamente nada. Nada mesmo! Só o pó. Assustador! Verdadeiramente assustador, como descer por uma estrada em região de serra, enfrentando uma forte neblina, quando não se enxerga “um palmo diante do nariz”.
Não havia problemas com aquele tipo de trabalho e, na maioria das vezes, a engenharia havia acertado a questão do isolamento, nem mesmo poeira o engenheiro “testador” cheirava.

Só que, num dia qualquer, quando a picape virou para a esquerda, um vento forte soprou reto, a poeira, ao invés de seguir a picape, lançou-se em frente, seguida pelo carro em teste, que foi parar em um barranco. E o motorista da picape, inocentemente, também seguiu em frente só percebendo que acontecera, quando na volta seguinte, avistou o carro de teste no barranco. Havia um rádio de comunicação entre eles que, não se sabe o motivo, não funcionou naquele momento

Por seu lado,  quem seguia a poeira, depois de soltar o cinto de segurança e, assustado, mas ileso, sem nem mesmo um arranhão, e também sem nada entender,  saiu do carro. E chegou à conclusão que fora uma apenas uma lufada, muito forte, de vento que provocara aquele problema.

Ficou esperando que fossem rebocar o veículo do teste. Como a pista ficava no meio do mato, ele chegou mesmo a pensar que aquilo talvez tenha sido uma traquinagem do Saci Pererê, que vez por outra aparecia lá por aqueles lados, como garantem os criadores de Saci da região.

Será?

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