Agora que o verão acabou, levado pelas águas de março, fico lembrando dos verões passados, nos anos 60, e dos modelos em que a gente fazia a viagem entre a Capital e o Litoral e o seu retorno. Especialmente lembro da volta, a Via Anchieta entupida e a gente andando a 10 km/h, quando isso acontecia.
Era uma tal de 1ª e uma difícil 2ª. E o carro do lado fervendo, e parando no acostamento, que era muito estreito e o carro parado atrapalhava o tráfego. Um horror!
Eram carros com carburador e o tal do giclê (Um parafuso com o orifício calibrado, que serve para dosar a quantidade de gasolina que sai do pulverizador principal. Chama-se “principal” para distingui-lo do pulverizador de marcha lenta. Quanto menor o diâmetro do orifício, mais pobre será a mistura.) que, quando modificado fazia ferver até os Fuscas e afins, com o seu motor refrigerado a ar.
Os refrigerados a água precisavam contar com a esperteza do seu proprietário que levava um vasilhame, com água, para o momento da fervura do seu radiador, que não podia ter nenhuma, por mínimo que fosse, fissura, ou uma tampa corroída e que já não vedasse bem o sistema.
Hoje os modelos, desde os mais simples ao mais sofisticados, têm, não só direção hidráulica ou elétrica, e ar condicionado. E, a cada dia que passa, aumenta o número deles que têm transmissão automática ou “genérico” dela. E o radiador é lacrado e não usa mais água e sim etileno glicol, cujo ponto de ebulição é bem mais alto que o da água,
Além disso, fora os importados, nossos modelos “Made in Brazil”, não tinham ar condicionado, nem direção hidráulica, mas apenas o quebra vento, que só ajudava a minorar o calor quando o carro andava acima dos 60 km/h, mas, mesmo assim o ar entrava quente pelo carro.
Então, sofríamos muito nos anos 60 com os nossos Fuscas, Gordinis, DKWs, Simcas e outros modelos menos votados.
A única coisa em que os anos 60 ficaram em níveis abaixo dos tempos atuais foi a temperatura média dos verões. No deste ano, tivemos médias quase acima dos 40º em diversas regiões, incluindo o Litoral de São Paulo, enquanto nos anos dos nossos carburados, raramente chegamos ao 4ºº. Raramente.
No quesito tempo de viagem, era igual aos dias de hoje. O volume de veículos era muito menor, mas não existia a Rodovia dos Imigrantes, com suas três pistas largas para subir ou descer a Serra do Mar. Mas as viagens continuam durando entre 4 e 8 horas, nos feriadões.
Agora, cá entre nós, se São Pedro nos mandar um inverno com a mesma intensidade deste verão, acho que vamos descer a Serra do Mar, pela Anchieta ou Imigrantes, de esquis. E quem for de carro, terá que colocar correntes nas rodas para poder trafegar na neve. “Quem viver verá”