“E se fôssemos baleias?”  traz a possibilidade de sonhar como contraposição ao capitalismo digital

Dirigida por Fernanda Raquel e com dramaturgia de Victor Nóvoa, peça será apresentada no Teatro Cacilda Becker

O coletivo A Digna apresenta o espetáculo E se fôssemos baleias?, um olhar crítico sobre a mercantilização dos afetos e seu impacto nas relações humanas mediadas pelo mercado de dados. Com dramaturgia de Victor Nóvoa – indicada ao Prêmio Shell 2024 – e direção de Fernanda Raquel, a peça ganha duas sessões gratuitas no Teatro Cacilda Becker, nos dias 4 e 5 de outubro, sexta e sábado, às 21h.

O espetáculo, que estreou em São Paulo no Sesc Pinheiros, com temporada de 9 de maio a 15 de junho, encerra a Trilogia do Acúmulo. A obra questiona a lógica de eficiência e desempenho que aprisiona corpos e relações sociais, tema também abordado em Verniz Náutico para Tufos de Cabelo (2015), vencedor do Prêmio Aplauso Brasil de Melhor Dramaturgia, e em Insones (2018), sucesso de crítica e público em várias cidades do estado de São Paulo.

A narrativa apresenta uma trabalhadora de um centro de distribuição de uma big tech, cuja rotina de 12 horas diárias é consumida pelo trabalho, deixando suas noites marcadas pela exaustão e insônia. Uma reviravolta ocorre quando ela finalmente consegue dormir e sonha que é uma baleia. Impactada profundamente por este sonho, comete um erro que resulta em sua demissão, desencadeando uma série de violências que a levam a perder as sensações do próprio corpo.

As atrizes Ana Vitória Bella Helena Cardoso interpretam a protagonista juntas. A escolha de uma pessoa duplicada reflete a força representativa dessa personagem, que carrega elementos comuns a tantos trabalhadoras e trabalhadores atualmente.

“O capitalismo de plataformas captura as nossas experiências de vida e as transforma em dados comercializáveis para grandes empresas. Tudo aquilo que sentimos, pensamos e desejamos se transforma em mercadoria. Não somos mais apenas consumidores, mas o próprio produto que é consumido”, explica o coletivo.

“A única personagem da peça, duplicada pela presença de duas atrizes – estratégia que nos ajuda a multiplicar as perspectivas – não consegue mais seguir com sua rotina diária depois de ter vivido a experiência de um sonho e percebe que a vida pode ser muito mais que a mera reprodução da máquina capitalista”, completa a diretora Fernanda Raquel.

Essas novas dinâmicas sociais e de trabalho mudaram a forma como nos relacionamos social e politicamente. “Michel Foucault tem uma frase bem interessante sobre os corpos dóceis. Ele diz que quanto mais um corpo produz, menos ação política ele tem no mundo”, contextualiza A Digna.

O conjunto de espetáculos é fruto de uma pesquisa de 8 anos em parceria com a diretora e atriz Fernanda Raquel. E a peça que encerra a trilogia foca nas maneiras de se contrapor ao acúmulo capitalista a partir de elementos como a memória, o sonho e o tempo. “Dirigir esta peça é poder ativar o sonho como uma tecnologia de transformação, um ato de resistência, que nos mova em direção a outros horizontes”, fala Fernanda.

A encenação minimalista, com cenografia de Renan Marcondes e figurinos de Joana Porto, cria um universo poético, que destaca de forma sutil a transformação dos corpos, utilizando materiais que possam brincar com os efeitos luminosos.

Além disso, a trilha sonora original, a cargo de João Nascimento, e a iluminação de Matheus Brant, desempenham papéis essenciais na criação deste universo onírico.

Este espetáculo foi contemplado pelo EDITAL PROAC Nº 01/2023 – TEATRO / PRODUÇÃO DE ESPETÁCULO INÉDITO do Governo do Estado de São Paulo, a Secretaria da Cultura e Economia Criativa e o Programa de Ação Cultural – Proac e as apresentações no Teatro Cacilda Becker fazem parte do projeto. Os ingressos podem ser retirados gratuitamente no local com uma hora de antecedência.

Ficha técnica: 

Idealização e realização: A Digna. Dramaturgia: Victor Nóvoa. Direção: Fernanda Raquel Elenco: Ana Vitória Bella e Helena Cardoso. Produção: Carol Vidotti. Trilha sonora original: João Nascimento. Direção de arte: Renan Marcondes. Iluminação: Matheus Brant. Figurinos: Joana Porto. Trilha sonora original: João Nascimento. Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli. Assistência de produção: Marô Zamaro. Assistência de figurino: Rogério Romualdo. Contrarregragem: Matias Arce. Operação de som: Thiago Schin e Gyllez. Operação de luz: Aline Sayuri e Letícia Nanni. Colaboração poética: Maria Thaís.

Serviço 

E se fôssemos baleias?, do coletivo A Digna 

Data: 4 e 5 de outubro – Sexta e sábado, às 21h.

Local: Teatro Cacilda Becker , Rua Tito, 295 – Lapa

Ingressos gratuitos 

Retirada no local com 1 hora de antecedência

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