Easy Rider 2 Sulamerica: "todo motociclista tem que ser consciente e forasteiro"

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Andar de moto pode ser um ato de rebeldia ou independência, mas também de pró-atividade e respeito ao próximo.
 
 
Relembrando o dia anterior, chegamos a noite em Passo Fundo e acertamos o horário de saída para o dia seguinte, as seis e quarenta e cinco –  como se fossemos levantar nesse horário – e conversamos como seria a estratégia do dia, após isso iniciei a transcrição do texto para o papel virtual. Como o dia tinha sido “tranquilo” escrevi pouco e acabou rápido, por volta das vinte para uma da manhã. Então não me critiquem pelos erros, estou quase um Zumbi.
Como já disse essa viagem está cheia de Djà vu, Carmas e pecados de vidas passadas, e uma delas é a chuva. Choveu a noite inteira em Passo Fundo, foi garoa, chuva fraca e chuva forte, como eu sei? Ouvi todas elas enquanto os pernilongos me picavam, na verdade foi um banquete para eles, não é sempre que se tem no mesmo quarto três forasteiros com sangue de cidade grande.
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A chuva ainda apertou bem na hora que estávamos tomando café, ou como disse o Daniel, “lá em Minas o pessoal diz que a chuva passou, da mais fina pra mais grossa”. Então decidimos tomar café com calma até a chuva passar de novo, pois para que pressa se íamos tomar chuva mesmo. Com tudo arrumado e as motos prontas saímos em direção a São Borja, só 335 quilômetros a frente, e esperávamos chegar lá por volta do meio dia ou um pouco mais, contudo a chuva, a estrada e os caminhões estavam conspirando contra nosso cronograma.
As ultrapassagens, muitas vezes cegas devido a sujeira da pista tinham que ser bem calculadas e a quantidade de água na pista fez a velocidade média cair, só sei que conseguimos chegar a uma hora e meia da tarde em São Miguel das Missões, e por lá almoçamos. Então agora a coisa era tentar chegar a Uruguaiana antes do final da tarde para fazer o seguro carta verde e ganhar tempo, já que o que mais perdemos foi isso desde o início do projeto. Com mais de 280 quilômetros para rodar em pouco de mais de três horas, precisávamos contar com a sorte e tempo bom, só que a BR 285 está em condições precárias e cada vez que o tempo parecia querer estiar a estrada fazia uma curva para o lado negro do céu.
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Nos poucos quilômetros que pegamos tempo seco e pista boa, literalmente, “ deitamos o cabelo” para tentar recuperar o tempo perdido, só que aí pegamos vento e o consumo da NC despencou de 26, 8 km/l para 22 km/l e nos forçou a uma parada não prevista no posto. Para ajudar assim que a chuva deu uma trégua paramos de novo para tirar as roupas de chuva, pois estávamos cozinhando dentro delas, ai já que tínhamos perdido todo tempo recuperado fiz uma manutenção básica na placa da moto que estava querendo ficar pelas terras gaúchas. Nada que um furo na placa e uma cinta plástica não tenham dado jeito, depois o pessoal da Honda encomenda outra.
Como o tráfego de caminhões é muito intenso na BR 285 o risco de acidentes e incidentes é muito grande. Na verdade, em quase todas as BRs, devido aos seus projetos de terceiro mundo. E não é que eu e o Wilson levamos o maior susto devido a um incidente que poderia ter se tornado um acidente! Após saírmos de uma curva fechada e é lógico chovendo, temos de cara com vários carros e caminhões desviando para contramão ou para a nossa mão, ainda bem que para nós eles estavam subindo então a velocidade era mais baixa. Ao ver aquilo eu já pensei em um acidente ou carro quebrado na pista, mas não era, algum caminhão deixou cair dois pedaços de caibro de mais ou menos um metro de comprimento no meio da pista, ou se desviava para o acostamento, esse impraticável ou para pista oposto. Aquilo me veio na cabeça cenas de acidentes e tudo aquilo que você sabe que no final causam dor, desespero e perda para inúmeras famílias, e também no Daniel que estava mais atrás devido ao tráfego.IMG_7145
Sem pensar parei a moto fiz sinal para os carros pararem, alguns pararam, e fui retirar os pedaços de pau do meio da pista, está certo que eu já estava molhado e  moto é mais fácil de parar, mas será que ninguém pensou como eu? Nessas horas cadê o pessoal do Self para registrar? Não, não quero aparecer na mídia eu já tenho a minha, quero ver outros motoristas fazendo isso, porque ser motociclista é pensar na própria segurança e na dos outros, não somos só rebeldes e independentes com ideais contra governos e sociedade.
Passados meus cinco minutos de ajuda ao próximo, acho que mereço pilotar um dia sem chuva, o que acha São Pedro? Tocamos para Uruguaiana onde chegamos quinze para seis e fomos direto ao escritório de despachantes agilizar no seguro para rodar sem problemas no país Hermano e Chile e ainda acertamos a troca de pesos. Com o valor do peso combinado em R$ 0,26 fomos para o hotel deixar nossas coisas para depois irmos no Banco sacar dinheiro. Agora olha a ingenuidade dos três aventureiros, com íamos sacar quantias até altas para o padrão Campinas/São Paulo, fomos os três a três Bancos diferentes, um entrava e dois ficavam na porta, só que em um dos saques tinha um policial civil de olho na gente e nós de olho nele, afinal nós estávamos tirando o dinheiro e ele estava atrás de nós. Com a mufunfa no bolso fomos tomar um lanche e aproveitar para usar o WiFi da lanchonete e não é que o agente da lei chegou enquadrando nós três. Só que o vulgo policial estava de bermuda e sem identificação e chegou falando grosso. Ai a adrenalina já foi pras alturas e mais ainda quando percebi dois caras vindo por trás de mim, eu só relaxei quando vi que estavam de uniforme da Brigada.
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Após as averiguações de rotina e capivara puxada eles vieram falar que tinha tido uma denúncia anônima e tal, devido a nossa situação de forasteiros e bláblábá…..pensando bem eles cumpriram o papel deles e nós ficamos na boa e ainda com escolta.
O dia hoje não rendeu em quilometragem foram apenas 575 quilômetros, mas em estórias foi bom, isso só se consegue viajando de moto!
Texto: Arnaldo Bianco Filho
Fotos: Arnaldo Bianco Filho e Wilson Felix
 
 
 
 
 
 

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