Elétricos podem representar até 10% dos carros mais caros no Brasil

Avanço de carros 100% elétricos no Brasil, nos próximos anos, estará concentrado no segmento de marcas premium cuja definição ultimamente vem apresentando certa elasticidade de interpretação, além de discussões intermináveis que pretendo abordar numa coluna futura.

A barreira do preço elevado para os elétricos ainda vai demorar para ser superada. Em mercados emergentes como o brasileiro é natural que clientes com dois ou mais carros na garagem tenham a iniciativa de sentir de perto a alta aceleração, ausência de ruídos e vibração, além, é claro, de uma pegada local amiga do meio ambiente, entre motor e rodas, pela zero emissão de CO2.

Também há a vantagem do baixo preço baixo da energia elétrica para recarregar a bateria, apesar de não existir garantia de que isso se manterá para sempre pelo que se observa hoje no exterior. Mudar a matriz energética para zero emissão de CO2 do poço à roda e criar uma rede capilar de recarga em estradas exigem investimentos de grande monta.

Marcas como Audi, BMW e Mercedes-Benz preveem que até 10% de todas as suas vendas em 2023, no Brasil, sejam de modelos elétricos a bateria (sem incluir híbridos comuns e/ou plugáveis). Cada uma delas terá de quatro a cinco modelos com essas características.

A Mercedes-Benz acaba de lançar três elétricos simultaneamente: EQA 250 (R$ 480.900), EQB 250 (R$ 502.900) e EQE 300 (R$ 709.900) já incluídos carregador de parede instalado e as três primeiras manutenções preventivas. Modelos elétricos estão isentos do imposto de importação de 35%. Os dois primeiros são SUVs de cinco e sete lugares, respectivamente, cujas arquiteturas derivam dos modelos com motor a combustão. O terceiro é um sedã equivalente ao Classe E, porém trata-se de desenvolvimento específico.

Primeiro contato com os três modelos foi bem curto e rápido no entorno do Parque Ibirapuera em São Paulo (SP). Os dois SUVs têm rodagem firme e agradável, acabamento e materiais no mesmo padrão elevado da marca, mas sentem a massa total de 2.040 kg (EQA) o que afeta o desempenho, em especial o EQB (2.110 kg). Ambos têm o mesmo motor de 190 cv de potência e 39,2 kgf.m de torque.

O sedã médio-grande EQE 300 de 245 cv e 56,1 kgf.m vai bem melhor no para e anda do trânsito com acelerações mais fortes, apesar dos 2.380 kg de massa. Apresenta quadro de instrumentos e tela multimídia com mais recursos tecnológicos, além de vários comandos no volante de três raios vazados. A distância entre eixos de nada menos que 3.120 mm (10 mm superior ao Classe S) proporciona espaço extraordinário para as pernas de quem senta no banco traseiro.

Outro SUV interessante é o iX3 (R$ 475.950) cedido pela BMW para avaliação por cerca de uma hora em estradas na Grande Campinas (SP). Versão elétrica do X3 tem 286 cv, 40,8 kgf.m e 2.185 kg de massa. Tração traseira e comportamento mais agradável em curvas que o EQA de tração dianteira, além de melhor desempenho. Na viagem a regeneração de frenagem dispensou totalmente o uso dos freios. Isso é comum em trânsito urbano, porém em estradas é necessário manter um pouco mais de distância do veículo à frente e o sensor de radar do carro também ajuda.

BYD produzirá elétricos e híbridos na Bahia

Os rumores já existiam, porém no último dia 28 o governo baiano anunciou um protocolo de intenções com a chinesa BYD para começar a produzir chassis de ônibus e caminhões elétricos a partir de 2024. Haverá subsídios estaduais por 10 anos. Mesmo sem pormenores é fácil concluir que SUV e picape elétricos, além de híbridos plugáveis, estão previstos para 2025. Desde o começo deste ano comenta-se que parte das instalações da Ford, em Camaçari (BA), onde se produziam Ka e EcoSport até o início de 2021, seria a base de uma segunda operação da BYD no Brasil. A empresa produz ônibus elétricos em Campinas (SP) desde 2015 com baixo índice de conteúdo local e em volume quase simbólico.

Como sempre acontece nesses casos, a marca (ainda) não confirmou que produzirá veículos leves na Bahia. Muito menos a Ford se pronunciou, mesmo porque as instalações e o parque de fornecedores em volta da fábrica inaugurada há 21 anos são bem maiores do que as necessidades da BYD e ainda restará uma grande área industrial. O acordo com o governo baiano inclui a produção de ônibus elétricos para as regiões Nordeste e Norte.

Por que motivo haveria duas fábricas de ônibus? A prefeitura de São Paulo anunciou no mês passado que novos ônibus a diesel não poderão circular e serão substituídos por elétricos. Por motivo de escala produtiva, é provável que tudo fique concentrado mesmo em Camaçari.

Híbridos flex são prioridades de Stellantis e VW

O etanol está na rota de alternativas para o Brasil como uma transição dos motores a combustão para os elétricos. Stellantis e Volkswagen confirmaram que os planos estão em marcha durante o Congresso Autodata Perspectivas 2023, que se encerrou em 28 de outubro. A tecnologia não esconde segredos, mas se trata de decisão estratégica. Afinal, um híbrido flex abastecido com etanol produzido no Brasil apresenta emissões de CO2, quando se calcula o ciclo do poço à roda, bem abaixo de um carro 100% elétrico fabricado hoje na Europa com a matriz energética existente no continente.

Antônio Filosa, CEO da Stellantis, afirmou que o etanol exige menos investimentos por parte das fabricantes, dos fornecedores e do próprio governo e com resultados muito positivos para o meio ambiente. A tecnologia híbrida flex pode ser exportada para países vizinhos e outros continentes, em especial para a Índia, que é grande produtora de cana-de-açúcar e já tem etanol disponível.

O presidente da VW, Ciro Possobom, defende igual ponto de vista e anunciou que este mês será inaugurado o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Biocombustíveis, na fábrica de São Bernardo do Campo (SP).

Quanto à expansão do mercado interno de veículos leves em 2023 o presidente da Renault, Ricardo Gondo, espera crescimento de 5% a 10%. Confirmou um novo SUV produzido no Brasil com a mesma arquitetura CMF-B hoje existente na Europa e a produção aqui do motor 1-litro turbo. Este será flex, embora não tenha entrado em pormenores.

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