Hermeto Pascoal ganha exposição “Ars Sonora – Hermeto Pascoal”

Reunindo desenhos, objetos e instalações, a mostra apresenta produção visual do artista, celebrando sua trajetória e seu legado cultural no Sesc Bom Retiro

Com abertura no dia 28 de maio, às 19h, e visitação até 3 de novembro de 2024, o Sesc Bom Retiro apresenta a exposição Ars Sonora – Hermeto Pascoal. Com curadoria do crítico e curador Adolfo Montejo Navas, a mostra apresenta ao público uma faceta menos conhecida do multi-instrumentista Hermeto Pascoal – sua produção como artista visual. Em 2019, uma primeira montagem da exposição integra a 14ª Bienal de Curitiba e, agora, chega a São Paulo ampliada e em voo solo.

Músico autodidata em atividade desde a década de 1940, Hermeto Pascoal grava o seu primeiro disco, “Hermeto”, nos Estados Unidos, em 1971. Um ano antes emplaca duas composições suas no icônico “Live-Evil”, gravado ao vivo com Miles Davis. Em 1979 se apresenta no Festival de Jazz de Montreaux, na Suíça. Em sua longeva trajetória recebeu o Grammy Latino em 2019, na categoria “Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa”. E em maio do ano passado foi nomeado doutor honorário da Juilliard School, de Nova York (EUA) – o título foi entregue pelo trompetista Wynton Marsalis.

Em Ars Sonora – Hermeto Pascoal, o público pode conhecer sua criação no território das artes visuais. Pioneira, a mostra abrange diferentes linguagens, como desenhos, pinturas, objetos e proto-instrumentos musicais. A produção ultrapassa fronteiras disciplinares e, de modo ampliado, estabelece relações com a performance e as artes visuais.

A proposta da exposição Ars Sonora – Hermeto Pascoal é reconhecer sua produção para além dos já difundidos conceitos de Música Livre e Música Universal. Neles, o artista afirma a quebra das barreiras culturais, ultrapassando linguagens e suportes estabelecidos pela tradição. Nesse sentido, a mostra reúne objetos feitos dos mais diferentes materiais, deslocados do seu uso cotidiano e reconfigurados em seu sentido visual. Panos de prato, chaleiras, caixas de presente, sacolas, brinquedos, roupas e toalhas de mesa servem à ampliação musical transpostas para a apreciação visual, dando forma a um vasto arquivo sensorial e sonoro.

Articulando sons e ruídos a partir da musicalidade coletada de animais e de objetos do dia a dia, o artista transforma usos e funções, construindo assim o seu alfabeto sonoro e visual próprio até chegar no glossário da sua linguagem, a “Hermetologia”.

“A obra ímpar e caleidoscópica de Hermeto Pascoal deve ser reconhecida de forma mais ampla, muito além das coordenadas estritamente musicais nas quais é mal confinada a maioria das vezes”, afirma o curador. “A compreensão da obra de Hermeto Pascoal também como música visual se baseia na consideração porosa de sua obra, uma arte sonora que ultrapassa seus eixos musicais para desenvolver uma potência sinergética de escritura musical e visual ao mesmo tempo, de visualidade sonora e gestual, que contamina todo tipo de instrumentos-objetos-suportes como novos espaços-registros de representação sonora (experimentações diversas com a natureza, a animália, a voz das pessoas, as performances corporais, os desenhos, os objetos-partituras, os álbuns sonoros, visuais, as trilhas imagéticas…). Tudo isso corresponde com uma terminologia afim à poesia visual, à pangrafia, e ao mesmo tempo ao happening, à performance, a outro olhar-ver-fazer que é simultâneo às percepções, à interação som/imagem, gesto/pensamento”, completa Navas.

Reunindo nove diferentes vertentes de sua criação, a mostra está configurada em um conjunto de núcleos em torno da poética artística elaborada por Hermeto Pascoal. Numa combinação relacional e interconectada, tem como ponto de partida a “Música da Aura”, na qual mostra experiências sonoras realizadas com o som da voz das pessoas e a sua natureza tonal.

A seguir vêm as partituras-expansivas, os poemas-objetos e as obras em papel. É nesta seção que estão elementos retirados de seu fabrico industrial serializado e ora refeitos em música própria e pessoal, a partir das notações musicais sobrescritas, como se as partituras brotassem dos objetos.

Cosmossonia”, a seguir, traz como ponto de partida o som e trata-se, portanto, de uma ampla conversão de todo objeto e utensílio em instrumento musical. Na sequência, “Obras-Arquivo” apresenta o Calendário do Som, obra em que Hermeto Pascoal compôs, de 1996 a 1997, uma música para cada dia do ano. Publicada em livro em 2000, foi interpretado por diferentes artistas, como a “Orquestra Família de Itiberê Zwarg” e o músico João Pedro. Ao lado das partituras estão os desenhos de Hermeto Pascoal para a obra, além de anotações e comentários do autor.

As “Pinturas Caligráficas” reúnem partituras feitas em guardanapos, convites, papeis de toda sorte, toalha de mesa, brinquedos, jogos americanos, cardápios de restaurantes e até em papel higiênico ou tampa de privada. Roupas e as paredes de locais públicos também servem de suportes às partituras. Na exposição, estão acompanhadas dos “Desenhos e Pinturas” do artista. Feitos com técnica mista, lápis de cor e caneta hidrográfica, são obras que apresentam numerosos elementos de cor e figurações livres em correspondência entre si.

O segmento “Brincando de Corpo e Alma”, uma ação performática de 2012, exibe registro audiovisual de captações sonoro-visual do artista produzindo diferentes sons no próprio corpo. É exibido ao lado de outra produção em áudio e vídeo, a peça “Ato de Criação”, trilha-sonora de Hermeto Pascoal para o curta-metragem “Eu Vi o Mundo, e Ele Começava no Recife”, de Mário Carneiro, dedicado ao artista Cícero Dias. Por fim, “Animália” é uma instalação sonora na qual diferentes formas de vida e de viver são celebradas em sua sonoridade, tendo o registro do som de bichos reunidos como parceiros artísticos de Hermeto Pascoal.

Para completar a exposição há a “Hermetologia”, glossário no qual se compila uma coleção de verbetes e citações sobre os mais diversos assuntos, com reflexões do próprio artista sobre música, som, arte, cultura, matéria e espírito.

No espaço expositivo da unidade Bom Retiro serão oferecidas oficinas e programação integrada à exposição. As ações educativas presenciais com educadores e pesquisadores partem do constante diálogo com a produção de Hermeto Pascoal. A mostra conta com recursos de acessibilidade, como audiodescrição, videoguia em libras e recursos táteis. As visitas para escolares podem ser agendadas pelo e-mail agendamento.bomretiro@sescsp.org.br 

Serviço

Ars Sonora – Hermeto Pascoal

Curadoria: Adolfo Montejo Navas

Local: Sesc Bom Retiro – Espaço expositivo/2º andar – Alameda Nothmann, 185 – Campos Elíseos, São Paulo – SP

Abertura: 28/05, às 19h. Praça de Convivência

Visitação: 29/05 a 03/11/2024

Terça a sexta, das 9h às 20h

Sábado, das 10h às 20h

Domingo e feriado, das 10h às 18h

Agendamento de grupos: agendamento.bomretiro@sescsp.org.br

Classificação indicativa: livre

Gratuito

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