Motores de baixa litragem e turboalimentados são afetados pelo problema
À medida que as demandas do mercado e as regulamentações ambientais levam as montadoras a aprimorarem a economia de combustível e reduzirem as emissões de CO2, os motores a combustão interna evoluem para serem mais eficientes. Uma das estratégias adotadas é o downsizing, que significa a redução do tamanho dos propulsores, sem a perda de potência e torque, com a melhora nos índices de consumo e emissões.
Para se chegar neste resultado, os fabricantes têm adicionado turbocompressores para aumentar a pressão operacional do motor. Esse ajuste, juntamente com outras modificações de design e funcionamento, cria condições propícias para o surgimento do LSPI (Low Speed Pre Ignition ou Pré-ignição em baixa velocidade), um fenômeno que acomete a nova geração de veículos equipados com essa tecnologia.
“O LSPI é um fenômeno de combustão irregular, que ocorre nos modernos motores de injeção direta de combustível. Ele aparece quando a mistura ar-combustível dentro da câmara de combustão entra em ignição prematuramente e de forma não controlada, antes da centelha da vela”, explica Marlon Silva, coordenador técnico da TAKAO, marca de componentes para motor comercializada pela Goop Distribuidora. “Esse fenômeno é acentuado quando o regime do motor trabalha em baixas rotações com alta carga”.
Principais causas da LPSI
As causas exatas da LSPI ainda não são totalmente conhecidas, mas diversos fatores contribuem para sua ocorrência. Entre eles, estão a composição do combustível, depósitos na câmara de combustão, temperatura e pressão elevadas, assim como resíduos de óleo e combustível, bem como partículas metálicas na câmara de combustão. A pré-ignição gera uma onda de choque no cilindro, que pode causar a quebras de componentes como pistão e anéis. No pistão, a região que mais sofre é a primeira canaleta. Em casos extremos, esses componentes podem sofrer danos catastróficos e provocar outras avarias, levando a incêndios no compartimento do motor, representando um risco sério para a segurança do veículo e de seus ocupantes. Em outros casos, motores que passaram por modificações estruturais, com o intuito de ter a taxa de compressão aumentada, com a diminuição da altura do bloco, têm riscos aumentados para a ocorrência do LSPI.
Como prevenir
Sua prevenção envolve cuidados com o uso de combustíveis e lubrificantes de boa procedência e indicados pelo fabricante, combinados a realização da manutenção preventiva, com especial atenção ao sistema de ignição, incluindo cabos, bobinas e velas. No entanto, os reparos dos danos causados são extensos e envolvem a substituição dos componentes avariados, quando não, do cabeçote ou bloco do motor.
LSPI x Batida de Pino
Uma questão discutida no mercado é a relação do LSPI com a batida de pino, ocorrência comum em muitos veículos e conhecida pelos profissionais de reparação automotiva. Podemos dizer que são a mesma coisa? “Em tese, o LSPI provoca a batida de pino, mas nem toda batida de pino é provocada pelo LSPI”, explica Marlon Silva. “Enquanto o primeiro ocorre quando a mistura de ar e combustível entra em ignição de forma prematura, no segundo caso temos a queima ocorrendo de forma descontrolada, provocando pequenas explosões na câmara de combustão. Outra diferença é que o LSPI é mais comum em baixas rotações, baixa temperatura e alta carga, enquanto a batida de pino fica evidente em condições de alta carga e alta temperatura, como em acelerações bruscas ou subidas íngremes”.
A batida de pino pode ser provocada por causas como depósitos e impurezas na câmara de combustão, combustíveis de baixa octanagem e superaquecimento do motor. Da mesma forma que o LSPI, o uso de lubrificantes fora das especificações do fabricante ou sua troca fora do prazo previsto no plano de manutenção, assim como a falta da manutenção preventiva dos componentes de ignição e injeção contribuem para o surgimento dos problemas, que afetarão pistões, anéis e bronzinas, levando a danos mais sérios, se não forem sanados a tempo.
No Brasil, a adulteração de combustíveis chegou a 3% das amostras coletadas pela ANP (Agência Nacional do Petróleo), em 2022. Já a falsificação de lubrificantes é uma preocupação que vem aumentando. Uma pesquisa do Sindilub (Sindicato Interestadual do Comércio de Lubrificantes), em 2023, constatou que a cada 10 litros comercializados, 1 litro traz adulterações. Essas questões se tornam ainda mais relevantes, já que estão entre as principais causas do LSPI e da ocorrência da “batida de pino”. O especialista da TAKAO alerta que é essencial que reparadores e consumidores estejam cientes desses riscos. Por isso, ele recomenda aos aplicadores que, ao constatarem o uso de substâncias inadequadas durante verificações dos componentes, alertem seus clientes sobre os prejuízos associados e os conscientizem sobre a adoção de práticas de manutenção e condução responsáveis como formas de prevenção de danos ao motor e da redução da vida útil de seus veículos.