Mercado: vendas de seminovos seguem em alta

Mudanças climáticas ainda afetam fabricação de semicondutores na Ásia, impactam a performance de veículos novos no Brasil e mercado de seminovos e usados cai devido ao baixo estoque das revendas

O mercado de seminovos no país registrou queda de vendas em outubro, na comparação com setembro. Em outubro, foram comercializadas 1.168.479 unidades contra 1.340.277 no mês anterior – redução de 12,82%. A média de vendas diárias por dia útil no mês passado ficou 8,5% menor do que em setembro. No período, foram comercializados 58.424 carros usados por dia, contra 63.823 em setembro. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (03), pela Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores, que engloba concessionárias de carros seminovos e usados. Segundo a entidade, a performance do setor foi impactada, além de outras incertezas do mercado, pelo feriado prolongado do Dia da Padroeira do Brasil, no dia 12 de outubro. Para Flávio Maia, diretor comercial da AutoMAIA Veículos, outro fator que pesou muito na queda são os baixos estoques nas revendas de seminovos.”Faltam carros no mercado. Na AutoMAIA, por exemplo, estamos apenas com 60% do volume de estoque que geralmente temos. Dependemos da oferta de carros zero para girar o estoque de seminovos.” – explica o empresário.

Ainda com estes resultados, o mercado de usados no país mantém a tendência de alta no ano. O total acumulado nas vendas de carros usados e seminovos de janeiro a outubro é de 12.739.688, contra os 9.812.837 registrados no mesmo período em 2020 – alta de 29,8%. Segundo a Fenauto, os resultados indicam “sinal de recuperação do setor, após o período de lockdown vivido anteriormente”. A explosão de vendas desse mercado neste ano se deve a uma composição de fatores. Além da alta do dólar sobre commodities, os efeitos da pandemia sobre as finanças dos brasileiros que não suportam a alta dos carros zero, a indústria automotiva nacional, que durante a pandemia desacelerou brutalmente o ritmo de produção, ainda é obrigada a pisar no freio diante da escassez mundial de semicondutores. E “a previsão é de que o bom desempenho do segmento de usados e seminovos perdure até o primeiro trimestre de 2022, já que o mercado de chips não tem previsão de regularizar a produção com a rapidez de que a indústria automotiva necessita.” – afirma Maia, que também é diretor de marketing e planejamento da Associação dos Revendedores de Veículos de Minas Gerais (Assovemg).

Enquanto o mundo se volta para as repercussões da 26ª edição da Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP 26), em Glasgow, na Escócia, o IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, criado em 1988 pelo Programa das Nações Unidas – adverte que o aquecimento global vai intensificar ainda mais as mudanças nos ciclos da água, incluindo a variabilidade e a severidade dos ciclos úmidos e secos. E os impactos dos desastres ambientais já são visíveis na produção industrial e na economia do planeta, como é o caso da indústria automotiva.

Taiwan, no Leste da Ásia, enfrenta há meses a maior seca em mais de 50 anos. A ilha de pouco mais de 35 mil quilômetros quadrados é o maior fabricante mundial de semicondutores do mundo, responsável por 67% da fatia global e ainda se destaca com uma posição única na montagem terceirizada de chips. A seca pressiona negativamente as fábricas que fazem o enriquecimento de silício, produzindo os wafers, como são chamados os discos de silício semi acabados, que dão origem a vários tipos de chips eletrônicos. A água é usada para limpar dezenas de camadas de metal que formam um semicondutor e, sem ela, o impacto é imediato na redução da oferta de componentes.

A indústria automotiva global responde sozinha por 10% do consumo de microprocessadores. Na pandemia, muitas montadoras chegaram a suspender a produção de veículos. No início do ano, com o avanço da vacinação e a melhora dos indicadores da pandemia, o mercado automotivo voltou a se aquecer. Mas as indústrias de semicondutores de Taiwan, China e Coreia do Sul não conseguiram suprir a demanda, que já era muito maior do que a capacidade de produção.

Neste cenário, os prazos de entrega se alongaram e os preços subiram – no caso brasileiro, essa situação é ainda mais agravada com a variação desfavorável do câmbio diante da desvalorização do real. E, por aqui, a indústria automotiva ainda é pressionada pelos preços de commodities como aço e resina plástica, que têm levado as montadoras a investir em modelos que dão mais retorno financeiro.

Mesmo com o repasse das altas para os consumidores – que fazem com que o preço de um carro compacto popular se aproxime da casa dos R$ 100 mil – as montadoras têm tentado retomar o ritmo da produção, encarando férias coletivas, antecipação de feriados e folgas, programas de demissão voluntária, redução de jornada e de salários, além do afastamento temporário do contrato de trabalho de funcionários sem demissão, o chamado lay-off.

E, em várias concessionárias no país a fora, a fila de espera por um carro novo pode chegar a quase cinco meses, o que tem ajudado o mercado de seminovos e usados a se manter em alta. “Muitos consumidores, que sofreram um impacto na renda com a pandemia e que tinham adiado a compra de um carro, agora buscam um seminovo de uma categoria superior que se encaixe no orçamento” – afirma o empresário Flávio Maia. Segundo ele, as vendas também são impulsionadas pelas pessoas que optaram por trocar o carro por um modelo mais antigo para quitar dívidas contraídas durante a pandemia. E há um novo tipo de cliente que usava transporte público ou compartilhado, mas decidiu comprar um carro próprio para evitar o contágio pelo coronavírus.

Apesar da expectativa de que 2021 seja o melhor ano de toda a série histórica, o setor só enfrenta uma dificuldade: a oferta de carros seminovos está menor do que a demanda. “Os estoques giram muito nas lojas e estamos atuando fortemente no mercado para captar bons veículos para a revenda.” – diz o empresário. “Agora é um excelente momento para quem está pensando em vender o carro já que, em muitos casos, estamos pagando um valor superior ao que o cliente comprou há dois ou três anos. Isso é inédito desde a implantação do Real.”

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