“O Bom Cinema”, primórdios do Cinema Marginal

Contra “A Moral e os Bons Costumes”, movimento tem origem em Faculdade Católica de Cinema

Em “O Bom Cinema”, que estreia no Curta!, o diretor Eugênio Puppo mostra que mesmo enfrentando adversidades e uma sociedade moralista, o cinema brasileiro conseguiu triunfar. Ao assistir ao documentário, cuja narrativa é recheada de cenas de outros filmes, o público se vê diante do nascimento de um dos movimentos mais importantes da cinematografia brasileira: o Cinema Marginal.

Com belas e representativas imagens de arquivo, o longa nos remete ao contexto mundial da década de 1960, vai estreitando o olhar para a cidade de São Paulo e, enfim, para a Escola Superior de Cinema da Faculdade de Economia São Luís, ligada ao colégio de mesmo nome, fundado pelo padre jesuíta José Lopes. De inclinação religiosa, a instituição quis levar a cabo uma resolução da Igreja Católica: a de incentivar uma produção cinematográfica cujos valores seriam condizentes com os preceitos morais da religião. Daí nasceria o que, para o Vaticano, seria “o bom cinema” — expressão que dá nome ao filme de Puppo.

A história mostra que tal intenção da Igreja foi não apenas frustrada, mas obteve resultado contrário ao previsto. Das salas da Escola Superior de Cinema, vieram cineastas como Carlos Reichenbach (1945-2012), conhecido como Carlão, cujo depoimento — em material de arquivo que se mescla com cenas de filmes — ajuda a guiar o espectador de “O Bom Cinema”. “Se existe um movimento chamado Cinema Marginal ou Pós-Cinema Novo, de certa forma, ele nasceu nos corredores da Escola São Luís (…), como um movimento que aglutinou pessoas de formação diferente que foram fazer um cinema vinculado à vida”, conta Carlão.

Essa reunião incluía, além dele, nomes como Rogério Sganzerla, João Callegaro, José Mujica Marins — conhecido pelo personagem que ele mesmo encarnava, o Zé do Caixão —, Andrea Tonacci, Antônio Lima e João Silvério Trevisan. Entre as cenas cuidadosamente costuradas — a fim de contar essa história —, estão trechos de diversos filmes que marcaram o Cinema Marginal como: “As Libertinas — Três Histórias de Amor e Sexo” (1968), de Callegaro, Lima e Reichenbach; “Bang Bang” (1971), de Tonacci; “À Meia-Noite Levarei Sua Alma” (1964), de Mujica; e “O Bandido da Luz Vermelha”, de Sganzerla, talvez o principal representante do movimento.

“O Bom Cinema” é um filme da Heco Produções, e foi viabilizado pelo Curta! através do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). Além de sua estreia no canal, também estará no streaming através do Curta!On – Clube de Documentários, plataforma disponível no NOW — da NET / Claro — e no Tamanduá.TV. A estreia é na Quarta do Cinema, 6 de abril, às 22h30.

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