O dia em que o lado GM de Detroit tremeu

Eu era gerente de Imprensa da GM. Não sei precisar o dia em que o fato ocorreu, só que foi no final de junho de 1987. Porém lembro, perfeitamente, que tremi dos pés à cabeça ao receber aquela notícia. Eu não acreditava no que ouvia, mas sabia que a informação era segura. Totalmente segura. Minha fonte jamais daria uma notícia tão importante se não tivesse absoluta certeza do que estava falando.

A diretoria estava em uma reunião do “board”, lá em Detroit, com toda a cúpula da General Motors Corporation e eu não tinha com quem compartilhar aquela “coisa” tão importante, assustadora e até amedrontadora como a que ouvira.

Respirei fundo, refleti por alguns minutos e parti em direção à sala de André Beer, o vice-presidente da empresa do Brasil, que estava lá em Detroit, participando daquela reunião mundial, com a presença, inclusive, representantes da Opel e a Vauxhall, braços europeus da GM, como a Holden, na Austrália, de onde veio o Omega.

Cheguei à mesa da secretária e falei: preciso falar agora com o André Beer. Ela consultou o relógio e disse que naquele exato momento ele participava da importante reunião e que não poderia interromper. A moça tinha razão, e por isso contei a ela o que precisava informar para o nosso chefe. Como eu, ela ficou assustada e perguntou se eu tinha certeza que aquilo era verdade. Diante da minha palavra, chamou Detroit e pediu que chamassem André Beer.

Quando ele atendeu e ela disse: “um momento que o chicolelis quer falar com o senhor”, tenho certeza que ele deve ter tido um momento de explosão, ficando com seu rosto avermelhado por eu ter interrompido uma reunião mundial da General Motors Corporation.

-Lelis, (ele não me chamava de chicolelis) espero que você saiba o que fez!
-Espero que você esteja sentado, retruquei. A Ford e a Volkswagen não seu unir no Brasil. Vão anunciar no dia 1º de julho. Não sei o nome ainda, mas a união é líquida e certa.

Ele perguntou se eu tinha certeza disso. Afirmei que sim. Ele agradeceu e voltou pra reunião.

De volta ao Brasil ele me chamou e cumprimentou pela atitude, mas não disse como a reunião acabou. Mas tenho certeza que o lado GM de Detroit, tremeu naquele dia de junho de 1987.

Um pouco da história

A união entre Volkswagen (51%) e Ford (49%) foi anunciada em 1º de julho de 1987. E ai surgiram algumas “criações”, como o VW Apolo virar Ford Verona ou vice-versa; o VW Santana virar Ford Versailles, a VW Quantum ser transformada em Ford Royale e o Ford Escort gerar dois modelos VW, o Pointer e o Logus.

O fim do “casamento” que, segundo comentários no setor, não foi nada amigável, veio o anúncio do divórcio, depois de 7 anos, em 1994, sendo que a “separação de corpos” ocorreu apenas em 1996. Tempos depois ouviu-se alguns boatos de que haveria um reatamento, mas ele não aconteceu. E hoje um dos “cônjuges” nem fabrica mais nada no Brasil.

Obs: Detroit, durante muitos anos, foi considerada a “Capital Mundial do Automóvel”, com suas três gigantes: Chrysler, Ford e General Motors. A cidade viveu anos gloriosos, com pleno emprego e um Salão anual – em pleno rigoroso inverno de janeiro – que recebia visitantes do mundo inteiro. Com o surgimento de novas montadoras, Detroit perdeu seu glamour, seu empregos e, também, sua condição “rainha” do mundo automobilístico.

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