Na segunda vez que dirige um texto do vencedor do Prêmio Pulitzer – o americano Sam Shepard (a primeira foi Criança Enterrada em 2016), Mário Bortolotto volta a atuar. Oeste Verdadeiro foi encenada nos circuitos Broadway e Off-Broadway nos anos 1980 com os atores Gary Sinise e John Malkovich
Com uma trama que se passa nos tempos contemporâneos das terras áridas do oeste americano, Mário Bortolotto se encontra mais uma vez com uma obra do autor Sam Shepard (1943-2017). Oeste Verdadeiro (True West) faz uma curta temporada de quatro apresentações gratuitas 6, 7, 8 e 9 de abril no Teatro Arthur Azevedo. As sessões são de quinta à sábado, às 21h, e domingo, às 19h. Com tradução de Ana Hartmann, a montagem do Grupo Cemitério de Automóveis, tem direção de Mário Bortolotto, que sobe ao palco ao lado dos atores Carcarah, Mara Faustino e Walter Figueiredo. Essa é uma remontagem da produção que estreou em 2017, onde Sérgio Guizé fazia parte do elenco e foi indicado ao Prêmio Shell.
O espetáculo conta a história do reencontro depois de anos dos irmãos Austin (Carcarah), bem-sucedido, que vive uma vida confortável como roteirista de cinema e TV, e Lee (Mário Bortolotto), um outsider, selvagem, que passa grande parte de seu tempo no deserto e se sustenta por meio de roubos. Depois de um longo período de ausência, Lee aparece na casa de sua mãe (Mara Faustino), mas encontra Austin, que está lá para cuidar da casa enquanto a mãe viaja, e para tentar vender seu novo projeto ao produtor de Hollywood Saul Kimmer (Walter Figueiredo).
Provocados por uma mistura de aversão e inveja, os dois irmãos se confrontam quase ao ponto da morte. A trama da peça se passa na cozinha da casa da mãe, 40 milhas a leste de Los Angeles. O oeste americano foi um lugar de oportunidades de liberdade e aventuras. Mas agora, este mesmo ambiente e estas possibilidades são ilusórios. O novo Oeste mantém a ameaça do velho Oeste, mas pouco do seu potencial para o heroísmo. Os protagonistas neste território hoje pavimentado, mas ainda selvagem, são dois irmãos reminiscentes de Caim e Abel.
Austin representa a possibilidade de prosperidade do Oeste. Quando a peça inicia, fica claro que ele está vivendo a quintessência do sonho californiano-americano. Ele é um roteirista bem-sucedido, com esposa e filhos. Vive uma vida confortável, com poucas aventuras. Lee, ao contrário, simboliza a liberdade e o lado selvagem do Oeste. Ele é um espírito livre que vem e vai ao seu bel-prazer, sem se prender a nada nem a ninguém.
“Esse tipo de embate entre irmãos é um dos motivos para eu me interessar pelo texto. Tenho uma trilogia de peças sobre irmãos (Fica Frio, Tempo de Trégua e Pequod), além de voltar ao tema em Nossa Vida Não Vale Um Chevrolet, onde três irmãos são ladrões de carro. É um assunto recorrente em minha dramaturgia e no meu trabalho de direção. No caso de Oeste Verdadeiro, a construção dramatúrgica de Shepard e a maneira que ele faz com que os irmãos se enfrentem é por demais interessante. Não conseguiria passar incólume por essa história”, conta o diretor.
O cenário e o figurino são realistas como o próprio Shepard faz questão de frisar, algo que os cenógrafos Mariko e Seiji Ogawa seguiram à risca. O diretor ressaltou como teve contato com o universo dos protagonistas. “É uma peça que trata sobre um oeste mítico que só existe na cabeça do personagem. Um dos irmãos inclusive em dado momento deixa claro que para ele esse “Oeste” está morto. Eles estão tentando elaborar um roteiro cinematográfico que é na verdade um far west desses que eu assistia nas matinês de cinemas de Londrina onde cresci. Sempre fui um fã do gênero de qualquer maneira. Meu pai gostava muito de far west e era algo que tínhamos em comum. Lembro que ele sempre ficava assistindo far west na televisão à noite e esses eram alguns dos raros momentos que a gente compartilhava algo que gostávamos”.
Oeste Verdadeiro tem uma trajetória de destaque nos circuitos Broadway e Off-Broadway nos anos 1980 com os atores Gary Sinise e John Malkovich, e arrancou elogios da crítica por seu humor irreverente e não convencional, sendo definida como um dos melhores trabalhos de Sam Shepard.
A peça foi trazida para Nova York e contava com os atores Tommy Lee Jones e Peter Boyle nos papéis de Austin e Lee. Em Chicago, liderada e representada pelos atores Gary Sinise e John Malkovich, a montagem se consolidou na crítica americana, esgotou os ingressos para uma temporada de seis semanas, em seguida, cumpriu mais doze semanas em um teatro maior, mais comercial da cidade, sendo posteriormente inserida no circuito Off-Broadway, novamente em Nova York. No Brasil, foi dirigida em 1996 por Marco Ricca.
Bortolotto sempre teve um diálogo próximo com o trabalho do dramaturgo americano. Leu Oeste Verdadeiro em um livro com quatro peças de Sam Shepard que saiu no Brasil em 1994, inclusive assistiu a versão da montagem de Ricca. Já conhecia o texto Loucos de Amor e assistiu a montagem que Babenco fez em 88 no Teatro Mars. Dirigiu Criança Enterrada em 2016 com o elenco formado por Ana Hartmann, Carcarah, Dida Camero, Nelson Peres, Paulo Cesar Peréio, Thiago Pinheiro e Walter Figueiredo.
Ficha técnica
Texto: Sam Shepard
Tradução: Ana Hartmann
Direção: Mário Bortolotto
Elenco: Mário Bortolotto, Carcarah, Mara Faustino e Walter Figueiredo
Cenografia: Mariko Ogawa e Seiji Ogawa
Figurino: Grupo Cemitério de Automóveis
Iluminação: Caetano Vilela
Trilha: Mário Bortolotto
Operação técnica: Isabela Bortolotto e Pablo Perosa
Fotos: João Caldas
Arte divulgação: André Kitagawa
Produção: Isabela Bortolotto e Paula Klaus
Serviço:
Local: Teatro Arthur Azevedo
Endereço: Av. Paes de Barros, 955 – Alto da Mooca, São Paulo
Temporada: 6, 7, 8 e 9 de abril. Quinta à sábado, às 21h, e domingo, às 19h.
Duração: 90 minutos.
Indicação etária: 16 anos.
Ingressos: Grátis. Retirada de ingressos uma hora antes do espetáculo.