Novidades realmente não faltam na 86ª edição do Salão do Automóvel de Genebra, a se encerrar no próximo domingo. Por mais que se fale em modelos híbridos e elétricos, o fato é que alta potência ainda atrai o público, mesmo muito distante do bolso dos simples mortais.
Agora a referência máxima sobe para 1.500 cv obtidos de formas diferentes. O francês Bugatti Chiron continua sendo o mais potente apenas com motor a combustão por meio de um W-16 e quatro turbocompressores. No caso do sueco Koenigsegg Regera trata-se de um híbrido com três motores elétricos e um V-8 biturbo. Ainda aparece o britânico Arash AF 10 que, além de um V-8, usa quatro motores elétricos. Este pequeno fabricante calcula a potência à maneira “esperta” de nada menos que 2.110 cv e 232 kgfm de torque. Na realidade fica em torno dos 1.500 cv reais, mas não deixa de surpreender.
Uma versão especial do Aventador, nomeada Centenario (100 anos do seu fundador Ferruccio Lamborghini), graças a um aspirado V-12/6,5 litros alcança 770 cv, potência nunca vista na marca italiana. A Porsche faz a apresentação oficial do seu carro esporte 718 Boxster, um roadster de quatro-cilindros turbo com potência superior ao seis-cilindros aspirado anterior. Este não será mais o modelo de entrada da marca alemã. Seu cupê-irmão, Cayman, assume esse posto, mas só aparece em abril no Salão de Pequim.
Alfa Romeo apresenta a aguardada versão “civil” do Giulia, sem os aparatos mecânicos e aerodinâmicos da versão de briga Quadrifoglio (510 cv). Depois de sofrer atrasos, anunciou-se em Genebra que as encomendas podem ser feitas a partir do próximo mês, mas sem marcar uma data de entrega certa.
Os europeus já não torcem mais o nariz para SUVs e crossovers, pois essa categoria continua a crescer e – Genebra demonstra – nos dois extremos de preço e tamanho. A Maserati estreia o Levante, de 5 metros de comprimento, e a Audi tem o Q2 compacto, de 4,19 metros. O primeiro será importado para o Brasil e a Audi ainda faz contas em razão dos impostos e real enfraquecido.
A Toyota resolveu ousar em termos de estilo no seu SUV compacto C-HR, cuja produção se inicia no México no próximo ano. De lá vem para cá e os japoneses parecem menos preocupados com o tamanho do porta-malas, pois o Renegade também pouco brilha nesse aspecto. Peugeot apresenta a primeira revitalização do crossover 2008, três anos depois do lançamento lá mesmo em Genebra. Espera-se que no máximo em um ano também chegue aqui.
E a Volkswagen também decidiu – tardiamente, é verdade – entrar para valer nesse segmento de crossovers compactos. O modelo conceitual T-Cross Breeze, que divide a mesma arquitetura MQB com o Q2, aparece disfarçado em versão conversível, mas as linhas principais estão bem nítidas. O mercado nacional tão depressivo indica que só por volta de 2018 a produção começa aqui. Investimentos continuam, em geral, mas os planos da maioria dos fabricantes aqui instalados estão na fase de pé no freio e não no acelerador.
Por fim, o empenho da Renault em dar sustentação ao segmento de monovolumes médios. Há um Scénic todo novo (4ª geração), porém se trata, possivelmente, de uma luta inglória frente aos crossovers.
RODA VIVA
MERCADO continuou em forte baixa nos dois primeiros meses deste ano (menos 31,3%) em relação ao mesmo período de 2015, quando ainda havia carros mais em conta por conta do IPI reduzido. Produção caiu 31,6% para reduzir os estoques totais de 51 para 46 dias e só foi não pior pela reação forte das exportações que subiram 26,8% no primeiro bimestre.
TENDÊNCIA de crescimento de vendas ao exterior pode arrefecer um pouco a queda no nível de emprego. Mês passado a Fiat contratou dois mil dos atuais colaboradores terceirizados e isso amenizou, estatisticamente, o número total da indústria. Incluindo veículos pesados, a indústria ocupa apenas 46% de sua capacidade instalada em três turnos (normal é 80%).
PICAPE média Toyota Hilux mostrou-se mais refinada na avaliação da Coluna em termos de estabilidade, dirigibilidade, equipamentos e ruído interno frente ao modelo anterior. Bom casamento entre motor diesel/câmbio automático 6-marchas. Suspensão tem maior curso, mas ainda sofre em pisos irregulares. Pena a falta de capota marítima como opcional de fábrica.
SITE Focus2Move divulgou a relação dos hatches compactos (segmento mais importante no mercado brasileiro) de maior venda na soma de todos os países pesquisados, em 2015. Liderança é do VW Polo, seguido por Ford Fiesta, Renault Clio, Toyota Yaris, Honda Fit, Peugeot 208, Kia Rio, Opel Corsa, Hyundai i20 e Maruti (Suzuki) Alto.
VOLVO é reconhecida por sua ênfase à segurança e a meta de nenhum ocupante de seus modelos morrer em acidentes até 2020. Apelo marqueteiro, pois há colisões em que ninguém sobrevive mesmo. Exagerou nos argumentos em filme institucional recém-lançado: www.youtube.com/watch?v=UKY6zHTH9Fg. Desrespeitou concorrentes e até fãs do automobilismo.
VOLVO 2 A Volvo mostrou humildade ao reconhecer que seu filme institucional postado no Youtube apresentava realmente argumentos exagerados e até desrespeitosos. O filme foi retirado do ar (narrado em inglês com legendas em português) e como Youtube tem alcance mundial pode significar que houve também reações negativas em outros países.
A ideia parecia bem intencionada e a produção era muito bonita, falando sobre o futuro com mais segurança e menos poluição. Do meio para o final é que descambou numa crítica generalizada a quem produz carros muitos potentes e insinuava que nenhuma marca se preocupa tanto com a segurança como a Volvo. Sobrou até para os que gostam ou assistem corridas de automobilismo em citação indireta na narração.
Este colunista trocou várias mensagens com a assessoria de imprensa no Brasil, mas como o filme era uma ação institucional da Suécia nada podia ser feito.
É bom não esquecer do velho ditado: “Quem exagera na argumentação, perde a discussão”.
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