@motite: oito coisas sobre pneus de motos

Uma lista de coisas sobre pneus que pode esclarecer e surpreender

Por: Tite Simões*

Os dois temas que mais geram confusão no mundo motociclístico são: frenagem e pneus. A frenagem porque moto – assim como bicicleta – tem sistemas de freios separados para a roda dianteira e traseira e isso dá um nó na cabeça de muita gente Em breve publicaremos um manual completo sobre frenagem. E pneus porque em pleno século XXI ainda tem gente que usa algarismo romano e outros que tratam moto como se fosse um carro de duas rodas! Mas não é!

Para uma viagem tranquila é importante pneus em bom estado
Foto: Vespaparazzi

Um dos grandes absurdos que se espalhou que nem catapora em jardim da infância é essa mania besta de colocar pneus mais largos na traseira só pra ficar mais “bonito”. Aprenda: pneu não tem de ser bonito. Pneu tem de ser EFICIENTE!

Pneus de motos só são eficientes na medida original, mesmo que seja fino. Nos carros os pneus mais largos dão mais aderência porque aumenta a área de borracha com o solo. Na moto o pneu não pode ser mais largo que o original porque obriga o piloto a fazer mais força para inclinar, além de perder a referência do limite nas curvas.

Antes de começar, outra informação: são poucos os motociclistas que realmente são capazes de identificar as características de um pneu. Até mesmo profissionais do setor tem dificuldade e uma das atividades mais cabeludas é de piloto de teste de pneus, porque o cabra (ou cabrita) precisa ser tão sensível, mas tão sensível que até chora vendo comercial do Boticário.

​Em pistas os pneus devem ser específicos para alto desempenho.
Foto: Sampafoto.

Pois bem, aí me pego ouvindo grandes especialistas motociclísticos afirmando peremptoriamente que a marca de pneu X é muito melhor nas curvas do que a Y e que a Z é melhor na chuva do que a W e por aí vai…

Amigo(a) leitor(a), antes de mais nada saiba que na categoria top de pneus para motos de alta performance, TODOS são muito bons, ótimos, excelentes. Não existe pneu ruim nessa categoria. Saiba também que só tem um jeito de saber se um pneu é “melhor” em determinada condição do que outro: testando no mesmo dia, na mesma moto e nas mesmas condições.

Motos de alta potência exigem pneus radiais
Foto: Claudinei Cordiolli

OK, eu sei o que você está pensando: “Ahhhh esse cara é um mala sem alça, porque eu usava o pneu Y na minha moto e depois que troquei pelo pneu X ela ficou muito melhor nas curvas”!!!
Sim, cara pálida, você tirou da sua moto um pneu USADO e colocou um NOVO, qualquer um ficaria melhor, dãããã…

Vamos às 8 coisas!

1) Pneus se trocam aos pares! Isso mesmo que você leu. Faça uma conta matemática simples: sua moto rodou 10.000 km e torrou o pneu traseiro. Aí, como um bom pão duro que és, olha pro pneu dianteiro e pensa “ah, dá pra rodar mais um pouquinho”. Nada disso, porque os pneus são coisas que andam aos pares. Se o traseiro rodou 10.000 km o dianteiro rodou quanto? Os mesmos 10.000 km. Se mantiver o pneu dianteiro e trocar só o traseiro, depois de 2.000 km quanto terá o pneu dianteiro. Hummmm vamos lá, continha fácil: 12.000 km. Aí sua moto estará muito bem apoiada na roda motriz com um pneu novos e totalmente desestabilizada na dianteira com um pneu gasto. Imagine isso na chuva! SEMPRE troque os dois ao mesmo tempo, não importa a aparência do dianteiro é seu pescoço que está em jogo!

2) Use sempre mesma marca modelo nas duas rodas! Outra das batatadas campeãs nas rodas de palpiteiros motorizados é “pow, mano, coloquei um pneu X na frente e um Y na traseira e a moto ficou bem melhor”… Sandice pura, com direito a entrada direto sem escala no Juqueri, ou Pinel. Seguinte, pneus foram feitos para andar aos pares. No seco nem dá muita confusão, mas no molhado o pneu dianteiro deixa uma marca no asfalto que irá encaixar com o sulco do pneu traseiro. Quando isso não rola acontece o que se chama de “crise de paridade”, muito comum nos casamentos, que é quando um fala uma coisa e o outro não entende nada.

Pneu traseiro gasta mais por causa da tração
Foto: Divulgação

3) Na chuva precisa reduzir a calibragem. Nãããooo! Todo pneu tem sulcos, também chamados de encavos. Estes sulcos são como calhas para a água da chuva. Então imagina a calha da sua casa. Digamos que ela tem 4 polegadas de diâmetro e a água da chuva passa por ela numa boa. O que aconteceria se você espremesse essa calha como se fosse um tubo de pasta de dente, reduzindo o diâmetro? Reduziria o volume de água a passar. Então, quando esvazia o pneu esses sulcos se fecham que nem as calhas e a capacidade de escoamento da água é menor, aumentando a chance de uma escorregada no molhado. Quando o engenheiro determinou a calibragem do pneu ele sabia que você não mora no deserto do Kalahari, portanto ele já previu o uso do pneu na chuva!

Os desenhos dos pneus dianteiro e traseiro se complementam.
Foto: Pirelli/Divulgação

4) Pneus de moto remold são proibidos. Sim, e o motivo nada te a ver com a ganância dos fabricantes, como pensam alguns, mas por questões de segurança mesmo. Quando o pneu aceita uma recapagem é porque ele já foi fabricado pensando nessa possibilidade. Toda a estrutura é prevista para rodar além do limite de desgaste. No caso das motos a proibição de remoldar pneus foi pensada na segurança. Se um pneu de carro falhar ainda restam quatro. Mas se um pneu de moto falhar não sobra nenhum, porque um pneu sozinho não sustenta a moto em equilíbrio. É o único caso da matemática onde 2 menos 1 é igual a zero. Os pneus de moto são fabricados de forma a suportar apenas uma vida. Para não acabar com a sua.

A data de fabricação aparece na lateral dos pneus.
Foto: Tite

5) O pneu gastou mais de um lado, vou virar! Primeiro saiba que é normal o pneu gastar de forma irregular, principalmente o dianteiro. E não precisa mandar a moto pra alinhar, porque o motivo está no chão, ou melhor, no asfalto. As ruas tem uma pequena inclinação para permitir o escoamento da água da chuva. Como a moto se apóia em apenas dois pontos é normal o pneu gastar mais de um lado. Mas nem pense em virar o sentido do pneu para “equilibrar” o desgaste! Lembre que as fibras dos pneus são coladas sobrepostas. Quando o pneu roda no sentido correto essas fibras ficam mais grudadas. Mas se inverter o sentido de rotação essas fibras podem descolar e deformar a banda de rodagem. Mesmo nas motos pequenas os pneus tem sentido de rotação. Portanto observe a seta na lateral do pneu e respeite o sentido de rotação. A explicação é porque o desenho dos sulcos é feito para escoar a água no sentido correto, se inverter a aderência no molhado pode reduzir.

Os pneus são montados em camadas, por isso deve-se observar o sentido de rotação
Foto: Michelin/Divulgação​

6) Borrachão é coisa de trouxa. Sabe aquela mania insuportável de girar o pneu com a moto freada no mesmo lugar, gerando uma fumaceira dos infernos? Chamam isso de “borrachão” ou “burn-out” e provoca um estresse desnecessário no pneu traseiro. Superaquece, compromete a borracha, sem falar que acelera o desgaste. Pior que o mesmo cara que reclama da durabilidade dos pneus é o que faz essa manobra o tempo todo. Esse estresse compromete a estrutura do pneu, que pode causar instabilidade e vibração na moto. Além disso, essa manobra não é nenhuma prova de habilidade, porque qualquer iniciante consegue fazer, só prova para todo mundo que o cara é desequilibrado, chato e sociopata.

7) Pneus sujam mesmo! Quando lavar a moto use apenas água e sabão. Se o pneu estiver sujo esfregue com uma escova, mas não use de forma alguma aqueles produtos que deixam o pneu mais preto do que já é. Eses produtos químicos atacam e ressecam a borracha. Depois de um tempo a borracha começa a trincar.

Pneus velhos ficam rachados
Foto: Tite

8) Pneus ficam velhos! Exatamente, nem sempre o indicador de desgaste (TWI) é o único medidor do fim da vida do pneu. Existe aquele tipo de motociclista que roda pouco e só no fim de semana, desde que não tenha uma nuvem de chuva num raio de 250 km. Essas motos eu costumo chamar de “moto-lasanha” só sai aos domingos. Neste caso os pneus podem ficar velhos, antes de ficarem gastos. Os pneus tem prazo de validade de cinco anos. Depois disso devem ser trocados porque perdem a capacidade de contração e expansão, independentemente de ainda ter sulcos profundos ou não. Você pode identificar um pneu velho de duas formas: lendo a data de fabricação na lateral do pneu ou observando dentro dos sulcos. Se estiverem trincados como uma porcelana craquelada, é hora de trocar.

 

*Tite Simões – Jornalista, instrutor do curso ABTRANS de Pilotagem. www.abtrans.com.br. Contato: info@abtrans.com.br

 

 

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